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03/03/2013 - 06h01

Veja como será o trabalho em 2018

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

Funcionários tratados como clientes por empresas, trabalhando em um espaço sem divisões e que foram contratados não pelo que sabiam fazer, mas, sim, pelo seu potencial profissional.

É dessa forma que a consultoria PSFK Labs, de Nova York, enxerga o ambiente de trabalho em 2018. A empresa tem clientes como IBM, Microsoft e GE. Eles publicam relatórios sobre o cenário de um determinado setor -o primeiro foi sobre o futuro do varejo. No começo deste ano, lançaram um estudo chamado "O Futuro do Trabalho", em que a consultoria identifica práticas que devem estar mais presentes nas empresas daqui a cinco anos.

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Ao longo do ano passado, foram feitas 1.200 entrevistas com funcionários, empresários e especialistas de companhias de diversos portes.

Piers Fawkes, sócio da consultoria, diz que as corporações "precisarão ter uma cultura de flexibilidade para se adaptar às mudanças do mercado, e isso terá um impacto grande sobre como iremos trabalhar no futuro".

Essas ideias, identificadas principalmente em empresas de tecnologia dos EUA, vão demorar muito mais do que cinco anos para chegar no Brasil, opina Elvira Berni, sócia-diretora da consultoria People on Time. Ela considera que os executivos que estão hoje no comando das grandes empresas aqui não dão muita importância a esse tipo de novidade. Os novos profissionais, sim, mas "mudanças de baixo para cima acontecem lentamente", diz.

Para Ricardo Antunes, professor titular de sociologia do trabalho da Unicamp, hoje, a fábrica taylorista, cujas regras foram escritas em estudos de Frederick Taylor (1856-1915), "foi substituída pela empresa enxuta, baseada em metas e flexível".

A motivação de mudanças na forma de trabalhar acontecem porque as empresas se organizam levando em conta a produtividade no trabalho. "A flexibilização produtiva trouxe uma alteração organizacional e espacial."

LOCAIS SAUDÁVEIS

Desde que o Buscapé Company mudou de sede, há três anos, menos gente pede demissão e os funcionários passaram a entregar seus projetos mais regularmente, sem atrasos. É o que diz Pompeu Scola, 50, vice-presidente de desenvolvimento organizacional.

Ele destaca que um dos fatores que contribuíram para isso foram os espaços recreativos da companhia: há mesas de pebolim, de pingue-pongue e para outras atividades (até uma quadra de basquete).

Os profissionais da empresa "são criativos, mas têm dificuldade para passar horas sentados e precisam ter rupturas para poder respirar", ele afirma.

No Facebook, os funcionários da área de informática atendem aos chamados de skate e o responsável pela operação na América Latina, Alexandre Hohagen, às vezes, anda de bicicleta pelo escritório.

A medida está em sintonia com o que diz a pesquisa: "Lugares construídos com preocupação com a saúde, para superar o sedentarismo, aumentam o foco e a produtividade".

Eduardo Knapp/Folhapress
No Buscapé Company há espaços para os funcionários circularem e até mesmo praticarem esportes
No Buscapé Company há espaços para os funcionários circularem e até mesmo praticarem esportes

FAZENDO E APRENDENDO

Na hora de contratar, a empresas não vão contratar um profissional que já domina o trabalho que ele vai fazer porque a organização entenderá que o funcionário irá adquirir os conhecimentos à medida que trabalha.

Foi o que aconteceu com Cesário Bruno de Barros Martins, 27. Ele estudou engenharia, nunca abriu um único livro sobre marketing na vida, mas foi chamado para trabalhar como diretor de marketing da Mobly, um site que vende móveis.

Para se adaptar à função, Martins conversou com outros profissionais da área e pesquisou o que existe sobre o assunto na internet e, por tentativa e erro, foi aprendendo o trabalho.

"O que importa é a vontade de fazer acontecer porque a maneira de operar muda rapidamente e o conhecimento fica obsoleto com a mesma velocidade."

A sócia da consultoria de RH Companhia de Talentos Maíra Habimorad, também identifica essa tendência.

"Vejo as pessoas sendo contratadas sem um escopo definido de trabalho. É como se a empresa dissesse: 'Você vai fazer mais ou menos isso, mas também outras coisas vão aparecer que não sei quais são'."

Eduardo Knapp/Folhapress
Cesario Martins formou-se em engenharia pelo ITA, mas foi trabalhar como diretor de marketing de uma empresa
Cesario Martins formou-se em engenharia pelo ITA, mas foi trabalhar como diretor de marketing de uma empresa

ESPAÇOS FLEXÍVEIS

O conceito do espaço flexível, e multiuso é uma das tendências que o estudo da PSFK identifica.

A organização do espaço segue a lógica de outros itens da pesquisa: quanto mais adaptável, melhor. Nesse caso, um cômodo curinga também serve para resolver o problema da falta de imóveis para escritórios em cidades saturadas, afirma Wesley Robinson, um pesquisador da consultoria.

Na sede do Facebook em São Paulo, até o mobiliário foi pensando para atender a demandas diferentes: no escritório, algumas mesas podem ser ajustadas para quem quiser trabalhar sentado ou em pé.

Segundo Ana Carolina Borghi, diretora de RH do Facebook para América Latinak, a adaptabilidade do espaço é um reflexo da cultura da própria empresa e também das pessoas que trabalham lá.

Na escritório do Buscapé Company há um espaço de 400 metros quadrados que serve para "reuniões, para alguém ler, para 'happy hour' e para quem quiser deitar nas redes ou jogar", explica Pompeu Scola, 50, vice-presidente de desenvolvimento organizacional.

Ze Carlos Barretta/Folhapress
No escritório do Facebook em São Paulo há áreas que têm várias funções e até mesmo os móveis são adaptáveis
No escritório do Facebook em São Paulo há áreas que têm várias funções e até mesmo os móveis são adaptáveis

E-RECICLAGEM PROFISSIONAL

A consultoria PSFK afirma que cursos de reciclagem pela internet serão mais frequentes nas empresas.

Carlos Souza, 32, sócio da Veduca, que disponibiliza vídeos de cursos, ressalta que um dos maiores sucessos no site é um conjunto de aulas que foram gravadas em Stanford, nos EUA, chamado "Desenvolvendo Aplicativos para iPhone".

Para ele, isso demonstra que há forte demanda por qualicação técnica.

Na Whirlpool, que fabrica eletrodomésticos, a gerente Salete Deon, 42, recebeu treinamento on-line para mitigação de riscos e gerenciamento de contratos.

Ela considera que os cursos "podem dar muito certo", mas só para treinamentos relativamente curtos, com objetivos definidos, e não como formação. Mas não é só para aprender novas habilidades que os profissionais usam ferramentas de aprendizado pela web. "Sou consultor e tenho que estar antenado para conversar com os clientes", diz Fagner Marques, que acompanhou pela internet os vídeos das aulas do curso de teoria dos jogos de Yale.

Marcelo Justo/Folhapress
Fagner Marques estuda via internet; ele acompanha cursos para se manter atualizado como consultor
Fagner Marques estuda via internet; ele acompanha cursos para se manter atualizado como consultor

TRABALHO COMO TESTE

Outra tendência apontada pelo estudo é um processo seletivo que busca saber precisamente se há identificação entre profissional e a empresa.

Silvio Celestino, consultor de RH da Alliance Coaching, diz que há empresas que confiam muito na intuição na hora de contratar alguém.

Uma forma que pode se disseminar no futuro para escolher o profissional é submetê-lo a um período de trabalho que funcione como teste. Um dos autores da pesquisa da PSFK, Wesley Robinson, considera que, dessa forma, "ambos [empresa e profissional] vão saber mais sobre o outro".

Foi o que aconteceu com Vinicius Xavier Marino, 24, estagiário do site de roupas e objetos Airu. Durante a entrevista, foi chamado para ficar na companhia por um dia.

"Vi como era a rotina." Ele diz que aproveitou o período para pensar se realmente queria trabalhar lá. Marino acabou aceitando o emprego.

Um processo parecido aconteceu entre a empresa de aplicativos Kekanto e a administradora de empresas Fernanda Miranda da Cruz, 27. A diferença é que não foi um dia, mas uma semana inteira de teste. Cruz, que foi remunerada pelo trabalho, considerou que essa forma de contratar é mais eficaz do que "uma entrevista em que os dois lados falam como são bacanas".

Foi a segunda experiência assim na Kekanto, conta o diretor Fernando Okumura, 34. Na primeira, ele achou que o candidato não se encaixava. Com Cruz foi diferente -atualmente, empresa e profissional estão em negociação.

Leticia Moreira/Folhapress
Fernanda Cruz trabalhou durante uma semana na Kekanto como parte do processo seletivo da empresa
Fernanda Cruz trabalhou durante uma semana na Kekanto como parte do processo seletivo da empresa
 

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