Processos seletivos para emprego ficam mais longos e têm mais etapas
DHIEGO MAIA
ADRIANA FARIAS
DE SÃO PAULO
As oscilações do dólar e o aumento gradual da taxa de juros forçaram o mercado brasileiro a diminuir o ritmo na hora de contratar executivos. Em meio às incertezas da economia, os processos de seleção estão mais longos e criteriosos.
Executivos brasileiros enfrentam dificuldades para lidar com funcionários
Liderança precisa ser personalizada e respeitar perfis individuais
Uma vaga que em média levava até 30 dias para ser preenchida, agora tem demorado até quatro meses, de acordo com recrutadores ouvidos pela Folha.
De acordo com a empresa de recrutamento Talenses, a saída de um executivo com salário de R$ 10 mil por mês pode gerar prejuízo de até R$ 60 mil, levando em conta custos com treinamento, remuneração, investimentos em benefícios, recursos de infraestrutura, mão de obra e o próprio processo de recrutamento.
Para não errar, os processos estão entupidos de etapas e com mais gente decidindo quem deve ocupar a vaga.
Dependendo do nível hierárquico do cargo, o candidato pode ser entrevistado pelo presidente da empresa e até viajar ao exterior, para ser sabatinado na matriz. Há seleções que incluem até dez entrevistas com diferentes profissionais da companhia.
Célio Zica, 37, que trabalha com controladoria e finanças, está em um processo seletivo que já dura dois meses.
"A ansiedade é o maior problema. Você tem que se conscientizar de que está o dia inteiro sem fazer nada, aguardando retornos de contatos que fez", afirma.
"As empresas não têm só o seu assunto. É difícil entender que os tempos são diferentes."
Zica está fora do mercado há quatro meses -ele deixou o cargo de gerente em uma empresa para arriscar algo novo na carreira.
"Eu me preparei, economizei, até para não passar por nenhuma dificuldade. Sabia que não seria de uma hora para outra", conta.
O profissional diz entender os motivos de uma seleção mais detalhista.
"As empresas estão começando a perceber alguns equívocos e estão tentando achar a pessoa mais aderente possível com o perfil que elas estão procurando."
Bruno Poletti/Folhapress | ||
Célio Zica está fora do mercado há quatro meses |
CAUTELA PÓS-CRISE
Para Ruy Shiozawa, presidente-executivo da consultoria Great Place to Work, os processos seletivos tornaram-se mais conservadores após a crise no sistema financeiro dos EUA, em 2008.
Antes disso, um recrutamento não passava de um mês.
"O processo de contratação e seleção é um dos mais críticos que se tem na empresa. Quanto mais tempo você demora para descobrir que contratou mal, porque investiu naquele profissional, maior é o custo para a empresa", explica.
Para Paulo Morais, da Talenses, o tempo é o investimento mais caro. "É muito grande o período que a empresa investe para trabalhar na consultoria, nos valores, no perfil da posição."
O "coach" César Cordeiro diz que o mercado, no cenário econômico atual, está em busca de profissionais que dão retorno rápido.
"Quanto mais especializado for o candidato, menor será o tempo de maturação. O executivo já precisa estar lapidado e achar diamantes lapidados está cada vez mais difícil."
E uma admissão malsucedida também pode arranhar a imagem da companhia. Na avaliação de Patrícia Epperlein, presidente da consultoria de recrutamento Mariaca, dependendo da área em que o executivo desligado atuava, o estrago pode ser grande.
"Um candidato mal escolhido pode trazer danos: pior ainda se for da área comercial [em razão da perda de contato com clientes]", afirma. "Sem falar nos segredos estratégicos a que esse profissional tem acesso e leva consigo quando vai embora."
Shiozawa, da Great Place to Work, destaca que o mercado tem reclamado da falta de preparo dos candidatos.
"É importante saber o histórico da empresa, estar lendo as notícias sobre ela nos jornais. Tem candidato que não tem a menor ideia da empresa. Ele só pensa nele. E sempre pergunta: 'Vou ganhar mais ou menos?", reflete o especialista.
Zica, que busca emprego na área de controladoria, diz fazer o dever de casa. Ele afirma, por exemplo, que busca saber se o estilo da empresa é compatível com o dele. "Faço uma pesquisa sobre a empresa sempre. E busco o que eu vou fazer, se essas atribuições me interessam e se a vaga trará um crescimento profissional para mim."
Para os especialistas, não há uma quantidade ideal de fases para captar um executivo no mercado. Eles avaliam que a demora pode ser ruim porque, geralmente, um executivo participa de vários processos simultaneamente.
O gerente de TI para as Américas da Ticket, Fábio Gomes da Silva, 37, já esperou 60 dias por um resultado. Hoje, como recrutador, ele aponta que as empresas pecam quando demoram a passar informação. "Existem empresas que não dão retorno. Isso é uma falta de respeito com o candidato."
"Quando eu contrato, costumo fazer um processo demorado. Quando a vaga é parte da gestão, ela impacta todo os departamentos. É normal a seleção ser um pouco mais longa."
Zé Carlos Barretta/Folhapress | ||
Fábio da Silva já esperou 60 dias por resposta de seleção |
Na hora de suportar um processo seletivo de meses, os candidatos precisam ficar atentos ao envio de e-mails e ligações telefônicas às recrutadoras durante a seleção.
Mesmo que a companhia deixe aberta a possibilidade de o candidato enviar mensagens sobre a vaga, ele deve esperar que o selecionador responda os e-mails. Não se deve cobrar respostas. Ligar diretamente à recrutadora é considerado uma gafe.
Para Lucas Peschke, diretor da empresa de recrutamento Hays, o problema não é a demora, mas a falta de transparência. "Tudo deveria ser combinado antes informando minimamente quais são as etapas que os candidatos vão passar, quanto tempo irá demorar cada processo."
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