Aluno quer aula 'padrão Fifa' após voltar do exterior, diz presidente da Capes
HELOISA BRENHA
DE SÃO PAULO
Há dez anos como presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Jorge Almeida Guimarães viu o órgão mudar de um anexo no Ministério da Educação para um prédio próprio de 13 andares em Brasília.
Nesse período, a entidade de incentivo à pós-graduação passou a ter um orçamento dez vezes maior, hoje em R$ 5,07 bilhões, e assumiu uma das principais vitrines eleitorais do governo: o programa de estudos no exterior Ciência sem Fronteiras (CsF).
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Hoje, Guimarães é responsável pela meta de 101 mil bolsas do programa e por acelerar a formação de mestres e doutores no país, que somam apenas 55 mil, longe de Austrália e Canadá, por exemplo.
Veja os principais trechos de sua entrevista à Folha.
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Folha - Até dezembro, o CsF contemplava graduação, doutorado e pós-doutorado. Por que abrir bolsas agora para mestrado profissional?
Jorge Almeida Guimarães - A demanda por cursos de pós-graduação mais curtos cresceu bastante. O mestrado profissional é mais focado e dura de um a dois anos. As empresas se interessam por essa modalidade, pois elas podem oferecer estágios ao estudante no exterior. Ali, elas colocam o DNA da empresa no estudante -mostram como operam, sua ética, seus projetos de inovação etc. Quando o aluno volta, tem grandes chances de ser contratado, pois essas empesas estão ampliando suas atividades no Brasil e querem trabalhar com quem já conhecem.
Sergio Lima/Folhapress | ||
O presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães, 75, na sede do órgão federal responsável pela pós-graduação, em Brasília |
Que empresas são essas?
São estrangeiras como a Boeing, a GE e a BP e brasileiras como a Petrobras, a Vale do Rio Doce e a Natura, por exemplo. Temos uma fila de acordos.
Das quase 61 mil bolsas concedidas, 33 mil foram para a graduação. Por que esse foco?
A graduação-sanduíche [na qual uma parte do curso é feita fora] despertou enorme interesse dos estudantes. No exterior, raramente as universidades dão mais de 14 horas de aula por semana, enquanto, no Brasil, é comum darem 35. Não sobra tempo para estudar. Alunos que já voltaram estão cobrando aulas no "padrão Fifa" que tiveram no exterior.
E como é o "padrão Fifa"?
É menos sala de aula, mais trabalho sobre o que eles estão estudando e mais tempo para estudar por eles mesmos, em grupo ou em rede. Também precisamos de uma maior internacionalização, com aulas em inglês e a formação de uma comunidade internacional dentro dos campi. A grande maioria das universidades brasileiras ainda está distante disso.
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