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26/01/2014 - 03h00

Apenas 7% dos mestrados profissionais têm nível de excelência

DHIEGO MAIA
DE SÃO PAULO

Mais prático e direcionado a atender as demandas do mercado de trabalho, o mestrado profissional ainda engatinha na qualidade dos cursos, segundo avaliação da Capes (autarquia do Ministério da Educação responsável pela pós-graduação).

Dados tabulados pela Folha nas duas últimas avaliações feitas pela instituição apontam que, proporcionalmente, caiu o número de cursos com nota máxima (em uma escala que vai de 1 a 5)

Em 2013, apenas 29 mestrados profissionais atingiram a excelência, de um total de 397 cursos, o que representa 7% do total. Em 2010, eram 25, de 243 programas (10,3%).

Leonardo Soares/Folhapress
Daniel Kanai diz que mestrado profissional é mais aprofundado que uma especialização
Daniel Kanai diz que mestrado profissional é mais aprofundado que uma especialização

Na última avaliação, 14 cursos de mestrado profissional receberam as notas mais baixas (1 e 2 ) e poderão ser fechados.

Para o professor Lívio Amaral, que coordena a avaliação da Capes, esses programas precisam alcançar a "maturidade acadêmica".

"Cursos que atingiram a excelência hoje caminharam 20, 30 anos. O mestrado profissional só veio a existir nos últimos 15 anos. Eu avalio até que eles estão avançando mais rápido do que os cursos criados no passado", afirma Amaral.

Outro desafio do mestrado profissional é chegar a mais áreas do conhecimento. Não há cursos nas áreas de antropologia, arqueologia, artes e música, direito, filosofia, serviço social e em parte das ciências biológicas.

Também não há nenhum programa da modalidade em geociências, que forma profissionais para atuar, por exemplo, na cadeia da exploração de petróleo.

"São áreas que têm um número relativamente pequeno de formandos na graduação e isso acaba respingando na pós-graduação", explica Renato Pedrosa, especialista da Unicamp em ensino superior.

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Mas Pedrosa prevê que a modalidade vai avançar nos próximos anos em áreas em que há falta de mão de obra qualificada no Brasil.

"O mestrado profissional terá apelo no desenvolvimento mais aplicado da logística, no sistema de transporte e em áreas da tecnologia", diz o especialista.

A administração, as engenharias e a economia concentram a maior quantidade de cursos desse tipo no país, com 27,4% do total.

O mestrado profissional carrega o mesmo status da modalidade acadêmica.

Além de servir para aprofundar conhecimentos na carreira, quem faz o curso também pode seguir na pesquisa avançando os estudos no doutorado, por exemplo.

Editoria de Arte/Folhapress

MUDANÇA DE NOTA

As peculiaridades da modalidade profissional da pós-graduação forçaram a Capes a mudar os critérios de avaliação. Os mestrados profissionais são avaliados da mesma forma que os acadêmicos, que exigem a publicação de artigos e teses.

A maioria dos alunos, no entanto, faz um produto e, no máximo, um relatório técnico como trabalho final.

"No mestrado profissional, vamos dar maior peso à produção do produto acadêmico, às atividades extraclasse, à inovação prática que esses cursos estão produzindo", afirma Amaral.

Daniel Kanai, 33, que trabalha no mercado financeiro, havia feito uma especialização curta antes de concluir o mestrado profissional em economia, no Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).

A diferença, segundo ele, é que no mestrado o conhecimento é aprofundado e, por ser profissional, há simulação de eventos reais em sala de aula."A gente analisava previsões do dólar, tendências de consumo e comportamentos do mercado", diz.

APLICAÇÃO PRÁTICA

O coordenador do mestrado profissional em Economia do Insper, Ricardo Brito, afirma que o maior que o maior desafio da modalidade é tirar da técnica conhecimento de relevância.

"É preciso expandir a fronteira técnica para criar uma metodologia atrativa", diz.

Os professores que cursam o mestrado profissional de ensino em física da UFRGS (Federal do Rio Grande do Sul), por exemplo, têm que criar um produto acadêmico ao final da pós-graduação, um material didático que desperte o interesse no aprendizado em física.

"O pós-graduando terá que testar esse produto e fazer um relato minucioso da interação que o projeto despertou", explica Eliane Veit, da comissão de pós-graduação da universidade.

O produto que valeu a aprovação do professor Gentil Bruscato, 52, foi a criação de um clube de rádio amador no Colégio Militar de Porto Alegre.

As engenhocas ajudam Bruscato a repassar conceitos físicos do funcionamento de uma transmissão de rádio.

"Eu passei a fazer o meu trabalho com base em uma teoria já experimentada. Acabei tendo uma habilidade maior para usar as situações do dia a dia para ensinar física", conta.

Divulgação
Após concluir mestrado, professor criou clube de rádio amador para ensinar física em colégio do RS
Após concluir mestrado, professor criou clube de rádio amador para ensinar física em colégio do RS

BOLSAS DE ESTUDO

Conseguir bolsas estatais, de órgãos como Capes e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), é mais difícil porque, geralmente, quem o cursa está no mercado de trabalho - quem tem vínculo empregatício não pode concorrer a esses auxílios.

A Capes lançou um edital para os interessados em fazer cursos desse tipo nos Estados Unidos, dentro do programa Ciência sem Fronteiras. As inscrições podem ser feitas até sexta-feira.

 

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