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21/12/2014 - 02h00

Executivas defendem cotas para elevar presença delas no topo corporativo

ANDRÉ CABETTE FÁBIO
DE SÃO PAULO

Apesar da expectativa de que, com o tempo, as mulheres ganhem espaço no topo do mundo corporativo, um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) com 72 mil companhias aponta no sentido contrário: a participação delas em conselhos de direção caiu de 9,5% em 2002 para 7,5% em 2012.

Para chegar ao topo, trabalhei 48 horas seguidas, diz executiva

A mesa de diretores representa o topo da estrutura corporativa: seus membros traçam as diretrizes, fiscalizam as ações dos executivos e dão a palavra final sobre grandes negócios. Com mais executivas lá, a expectativa é que mais espaço seja aberto para elas nas corporações.

Raquel Cunha/Folhapress
Chieko Aoki é fundadora e proprietária da rede Blue Tree Hotels e acredita que mulheres melhoram o resultado das empresas
Chieko Aoki é fundadora e proprietária da rede Blue Tree Hotels e acredita que mulheres melhoram o resultado das empresas

Mulheres veem, no entanto, obstáculos maiores para elas do que para os homens para chegar lá.

Parado no Senado, o projeto de lei 112/2010, da senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE), quer mudar o quadro obrigando que 40% das vagas nesses conselhos sejam ocupadas por mulheres de forma progressiva até 2022.

Segundo dados do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) de 2011, se desconsideradas herdeiras, a proporção delas nos conselhos cai para 4%. O projeto de lei prevê cotas apenas para companhias públicas e de economia mista.

"É difícil ampliar isso para outras empresas. Mas a lei serviria para questionar as que não têm mulheres", diz Maria Luiza Bueno, diretora jurídica integrante do grupo Mulheres do Brasil, que deseja aperfeiçoar o projeto e colocá-lo em pauta.

A associação reúne 150 executivas, entre elas Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, e Chieko Aoki, fundadora da rede de hotéis Blue Tree Hotels. "Nós as queremos em conselhos porque isso é o melhor para os negócios", afirma Aoki.

Ciete Silverio/FolhapressCiete Silverio/Folhapress
A executiva Maria Fernanda Teixeira, para quem mulheres são mais tímidas ao mostrar interesse por vagas
A executiva Maria Fernanda Teixeira, para quem mulheres são mais tímidas ao mostrar interesse por vagas

Ela cita dados de 2007 da organização sem fins lucrativos Catalyst. Eles indicam que companhias com maior proporção de executivas nos conselhos têm retorno 66% maior sobre o capital investido e vendas 42% mais altas.

"Na minha empresa, influencio positivamente não as mulheres, mas, sim, os homens, que aprenderam a valorizá-las. Entre meus funcionários, tenho 50% homens e 50% mulheres", diz Aoki.

A Noruega foi o primeiro país a aplicar cotas do tipo, em 2003. Isso elevou a proporção delas nesses níveis hierárquicos para 40,5%, mas a medida não ficou livre de críticas. De acordo com o "Wall Street Journal", nenhuma das 32 corporações norueguesas de grande porte têm mulheres na presidência.

De acordo com Margunn Bjørnholt, diretora do instituto norueguês de pesquisas Policy and Social Research, a lei conseguiu "dobrar o número de mulheres nas posições mais bem pagas, mas até o momento não houve o efeito de aumentar o número delas em cargos mais baixos".

Mesmo entre executivas, no entanto, a adoção de cotas não é unanimidade.

"Isso vai contra a meritocracia. É questão de tempo até chegarmos a cargos maiores", diz Heloisa Bedicks, superintendente do IBGC.

Apesar da queda na proporção de executivas em conselhos, o estudo da FGV aponta que a quantidade delas em posições seniores de liderança subiu de 4,2% para 7,7% entre 2002 e 2012.

OBSTÁCULOS

Uma das barreiras para que elas subam aos cargos mais altos é fazer os contatos com a cúpula, que é formada por homens, avalia Bedicks. "Quando fazem 'networking', é com outras mulheres."

"Nós tendemos a ser mais tímidas na hora de se expor e mostrar interesse em vagas", diz Maria Fernanda Teixeira, vice-presidente de uma empresa de processamento de pagamentos e conselheira da Câmara Americana de Comércio, de um braço do Banco Mundial e da escola de negócios francesa Insead, uma das que mais formam bilionários.

Bedicks também destaca a falta de estrutura para cuidar dos filhos. "Quando a mulher casa, precisa se decidir se vai trabalhar ou não. Faltam creches confiáveis e a responsabilidade sobre as crianças é atribuída a elas", diz.

Um estudo realizado entre 25 mil ex-alunos da Harvard Business School e publicado neste mês contradiz, no entanto, a ideia de que mães deixam de lado suas carreiras para cuidar das famílias.

"A maioria sai relutantemente como último recurso porque se encontra em papeis com pouca perspectiva de crescimento", aponta o texto do estudo.

Os pesquisadores indicam que, apesar de elas serem tão ambiciosas quanto os homens no começo da vida profissional, a ideia de que priorizam as famílias tem efeito negativo sobre suas carreiras, porque faz com que recebam tarefas secundárias.

 

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