Para chegar ao topo, trabalhei 48 horas seguidas, diz executiva
ANDRÉ CABETTE FÁBIO
DE SÃO PAULO
Com 16 anos, Geovana Donella, 45, decidiu que chegaria ao topo dos negócios. Mas ela diz que teve que trabalhar dobrado para vencer os obstáculos de uma mulher no ambiente corporativo.
"Quando homens trabalhavam de 8 a 10 horas, eu trabalhava 14, 18. Cheguei a trabalhar 48 horas direto", conta.
Executivas defendem cotas para elevar presença delas no topo corporativo
Ela afirma que, há 15 anos, quando estava num nível intermediário da carreira, sentiu uma necessidade de produzir muito mais do que um homem para ser vista. "Não só no primeiro ou segundo trabalho, mas até como presidente de empresa."
Karime Xavier/Folhapress | ||
Geovana Donella, 45, faz parte do reduzido grupo de mulheres que integram conselhos gestores de empresas no país |
Ela critica a falta de mulheres em conselhos gestores de companhias. No Brasil, apenas 7,5% das vagas nesses espaços são ocupadas por elas, de acordo com estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
"Há poucas mulheres no comando. Tem que haver uma conscientização de que as mulheres querem sim se tornar conselheiras", diz.
Ela afirma que, para chegar ao topo, teve que desenvolver algumas habilidades.
"É fundamental a capacidade de defender seu ponto de vista, dar opiniões, ter disponibilidade de tempo, motivação estratégica e capacidade de ler relatórios contábeis e financeiros. Tudo isso não se aprende da noite para o dia."
Outro fator que determina o crescimento profissional é a habilidade de lidar com a política da empresa.
Na visão da especialista em orientação profissional Eva Hirsch Pontes, as mulheres tendem a resistir mais a "jogar o jogo" da empresa na hora de disputar cargos.
"É comum mulheres encararem política e politicagem como a mesma coisa. Elas só veem o sentido negativo daquilo, mas fazer política é agir de forma ética, tentando por exemplo, influenciar colocando todas as cartas na mesa, sem tentar manipular ou intimidar", diz.
Para ela, as mulheres têm que deixar claras suas ambições e se preparar para os cargos mais altos.
Donella diz que estuda quatro horas por dia e fez a base de sua rede de contatos em universidades e cursos.
"Filiei-me ao IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e dei cursos práticos. É uma forma de fazer contatos muito usual, mas poucas pessoas ficam atentas a isso."
Segundo ela, quem está mais próximo de conselheiros importantes tende a ser privilegiado quando surgem vagas.
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