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24/05/2015 - 01h00

Desigualdade de salários entre homens e mulheres mais que dobra em 12 anos

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

O mercado formal de trabalho sempre foi mais favorável aos homens do que às mulheres, e, nos últimos anos, isso se intensificou.

A diferença nos salários de contratação mais do que dobrou entre 2003 e este ano, apontam dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Em 2003, os salários médios de admissão de mulheres contratadas com carteira assinada era de R$ 824 e o dos homens era R$ 882, um valor 6,85% maior. Já em março deste ano, a diferença de remuneração chegou a 14,38%.

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Uma possível explicação para a crescente desigualdade é que, nesse período, os trabalhadores se qualificaram e a disparidade entre as remunerações dos gêneros aumenta à medida que cresce a escolaridade.

A diferença salarial entre homens e mulheres não é um problema só do Brasil. "Nenhum país resolveu o problema da desigualdade de remuneração entre gêneros, nem mesmo os nórdicos", diz Irene Natividad, presidente da Cúpula Global das Mulheres.

Para ela, a distância entre os salários "não tem nenhuma relação com as taxas de desemprego ou o status econômico do país".

Editoria de Arte

A cúpula é um evento anual e cuja 25ª edição foi em São Paulo, neste mês. Natividad apresentou um levantamento sobre a presença de mulheres nos conselhos de administração das grandes empresas, que são responsáveis pelas principais decisões, como indicar os nomes dos diretores-executivos.

No Brasil, há, em média, 6,3% de mulheres neles. É uma taxa pouco mais baixa do que a média da América Latina (6,4%), mas distante dos EUA (19,2%) e da Europa (20%). Empresas americanas e vários países europeus adotaram políticas de cotas nos cargos de alto escalão para compensar a disparidade.

Os menores salários das mulheres não são só uma desigualdade, mas também um paradoxo, diz Lais Abramo, da Cepal. Isso porque no Brasil elas são mais educadas dos que eles (segundo o último Censo, 12,5% das mulheres tem nível superior, contra 9,9% dos homens).

Abramo aponta causas para a diferença. Segundo ela, há "uma série de mitos e preconceitos", como o de que os homens vestem mais a camisa da empresa e a de que elas se devotam mais à vida doméstica do que à profissional.

Outro motivo que cita é a segmentação ocupacional -algumas profissões bem remuneradas, como a de engenheiros, ainda são dominadas por homens.

Irene Natividad, da Cúpula Global das Mulheres, diz que a diferença de 14,38% apontada pelo Caged no salário de admissão de homens e mulheres (veja mais abaixo) é sintomática, já que esta é a base a partir da qual evolui a remuneração.

Karime Xavier / Folhapress
Marília Rocca, do Santander Brasil, a empresa do pais com a maior presença de mulheres no conselho
Marília Rocca, do Santander Brasil, a empresa do pais com a maior presença de mulheres no conselho

Para a professora Regina Madalozzo, do Insper, essa diferença de base tende somente a crescer conforme aumenta a qualificação.

Assim, quanto menor o nível de educação dos trabalhadores, menor é a disparidade de salários entre os dois gêneros. "Ao comparar trabalhadores que têm ensino superior completo, a diferença [de remuneração] sobe para 40%", explica.

Outra causa por trás dessa distância, segundo a gerente do programa da ONU para mulheres no Brasil, Ana Carolina Querino, é que as mulheres são mais vulneráveis ao movimento do mercado de demissões e recontratações com remunerações menores.

Também sintoma da disparidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho são as salas de reunião dos conselhos administrativos das grandes empresas, majoritariamente ocupadas por homens.

Uma delas, Marília Rocca, do conselho do Santander Brasil, afirma que parte da explicação está no histórico da entrada no mercado: como elas demoraram mais para fazer parte da população economicamente ativa, demoram mais para alcançar posições de chefia.

A presença de mulheres em cargos mais altos pode ser aumentada por influência externa -como multinacionais que trazem para as filiais do país políticas de inclusão.

Andrea Alvares, 43, é a diretora geral de salgados da PepsiCo para a América do Sul e Caribe, o posto mais alto da empresa no Brasil. Ela tem apenas colegas homens (seis ao todo) em cargos semelhantes ou superiores.

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Andrea Alvares trabalha na diretoria da PepsiCo como diretora da divisão de salgados
Andrea Alvares trabalha na diretoria da PepsiCo como diretora da divisão de salgados

Segundo Alvares, existem diretrizes da matriz para instalar programas de empoderamento de mulheres na operação.

 

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