Leitura dinâmica promete treinar olho para ver até mil palavras por minuto

Você vai ler esta reportagem em menos de um minuto. Essa é a promessa dos defensores da leitura dinâmica, técnica que, dizem, permite acelerar o consumo de um texto a taxas impressionantes de mil palavras por minuto (o normal são 180 a 200).

O segredo é eliminar a subvocalização: silenciar a pronúncia que fazemos mentalmente de cada termo que lemos (o que você provavelmente está fazendo agora). Como a fala é mais lenta do que a capacidade do cérebro de processar informação, ela retarda o processo, defendem os aplicadores da técnica.

Há diversos métodos que afirmam calar a voz: desde usar os dedos da mão como "aceleradores" -fazendo os olhos percorrerem as frases tão rápido que é impossível pronunciá-las mentalmente- a outros mais curiosos, como hipnose.

Na Methodus, que oferece cursos de leitura dinâmica desde 1998, o objetivo é passar da captação silábica para a de ideias completas.

"A técnica consiste em treinar a mente para que ela consiga compreender mais do que é captado normalmente pelo campo de visão", diz o professor Alcides Schotten, diretor da Methodus.

O curso presencial, de 30 horas, custa R$ 1.790 e promete taxas de 600 a 800 palavras por minuto.

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A adestradora de cães Flávia Campos, 34, foi uma de suas alunas. Ela explica que, em vez de ler cada sílaba, escolhe três ou quatro pontos para fixar os olhos por linha, e assim lê frases inteiras.

Para treinar o método, Schotten usa um software que "pisca" palavras na tela, a velocidades cada vez mais rápidas e em posições diferentes (horizontal, vertical) para trabalhar a visão.

LER COM A MÃO

O professor Juarez Lopes, 70, diz ter sido um dos pioneiros da aplicação do método no Brasil, em 1968. Em parceria com a filha Lissandra Oliveira, ele coordena o Instituto de Otimização da Mente (IOM), no Rio de Janeiro, que oferece cursos presenciais (16 horas, R$ 820) e on-line (R$ 205) da prática.

	Cecilia Acioli/Folhapress
	Judith Régis, 43, na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

A chave do modelo de Lopes é usar a mão, como se os dedos sublinhassem as frases, guiando o movimento dos olhos. Acelerando-se a mão, aceleram-se os olhos e, assim, a leitura.

Lopes inclui ainda aquecimento e alongamento muscular, exercícios para os olhos e até ioga em suas aulas.

A defensora pública carioca Judith Régis, 43, fez o curso do IOM em 2004. Além do trabalho na Defensoria do Estado, ela dá aulas de direito do consumidor. O volume grande de livros exigido pelas atividades foi o que a fez procurar o curso, conta.

Régis afirma que começou a ler cinco vezes mais rápido. Mas ela adaptou a técnica: em vez de usar a mão, passa antes os olhos por todo o texto, sem se deter na compreensão, para se familiarizar.

CRÍTICAS

"A fluência de leitura de um adulto é limitada pela capacidade de processar a informação e pela velocidade que o globo ocular consegue pular de uma palavra para outra", diz Augusto Buchweitz, professor de linguística e neurociência da PUC-RS.

Segundo ele, o "silabismo" condenado pelos professores de leitura dinâmica é superado na infância. Assim, o único jeito de acelerar é pular trechos do documento, o que prejudica a compreensão, diz.

Um estudo de 1987 da Universidade Carnegie-Mellon (EUA) com leitores regulares, rápidos e dinâmicos mostrou que os egressos do curso liam três vezes mais rápido do que os regulares (700 palavras por minuto, contra 240).

Mas, no teste de compreensão, eles acertaram 62% das perguntas mais gerais e 25% das mais específicas sobre um artigo de jornal, enquanto os regulares acertaram 80% e 50%, respectivamente. Quem lia rápido, mas sem treinamento, teve o pior desempenho (46% e 25%, respectivamente).

Por outro lado, não houve diferenças significativas na síntese dos textos feita por cada grupo grupo. Em termos de "apanhado geral" da ideia, acelerar não deixou os leitores dinâmicos para trás.