Além da discriminação, mulher enfrenta barreiras pessoais para crescer na carreira
FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO
A mulher que deseja crescer na carreira enfrenta, além da discriminação externa, barreiras internas.
Insegurança, dificuldade de fazer contatos e de chamar atenção para seu trabalho são os principais problemas.
"Meninas são criadas ouvindo histórias que contam que, se sofrerem muito, como a Cinderela, alguém vai resgatá-las", diz Andrea Chamma, responsável pelas relações institucionais do Bank of America-Merril Lynch.
"Então, acham que, se trabalharem bastante, serão notadas, e ficam à espera de reconhecimento", completa.
A executiva atribui a atitude a um "viés inconsciente". Culturalmente, a mulher é criada para ter uma postura mais passiva, enquanto o homem, mais agressiva, diz.
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Na vida profissional, isso se reflete na mulher tendo mais dificuldade para tomar a iniciativa de negociar aumentos de salário e promoções do que o homem.
Gabriela Di Bella/Folhapress | ||
Andrea Chamma na sede do Bank of America, em São Paulo |
"A maior falha da mulher é não dizer 'eu quero ser promovida'. É uma lição que levo no meu coração", diz Christiane Andrade, gerente sênior de projetos e logística da Dell. Ela conta que, no primeiro emprego que teve em uma multinacional, foi contratada junto com um homem. Os dois tinham currículo e performances semelhantes, diz Andrade, mas, após dois anos, ele havia sido promovido e ela, não.
"Eu fui conversar com ele sobre isso e ele me perguntou 'você já falou que quer ser promovida?'. Tendo demonstrado suas habilidades, você precisa dizer o que quer, não pedir", afirma.
Chamma, do Bank of America, entendeu o mesmo recado por um outro método: copiando mulheres que considerava bem sucedidas -conselho que ela recomenda a quem começa a carreira.
Ao fazê-lo, notou que precisava dar mais visibilidade ao seu trabalho e relacionar-se com profissionais de outras áreas. Quando surgisse uma oportunidade, o nome dela seria lembrado.
ATITUDE
A IBM perguntou a cerca de 400 executivas da empresa o que elas haviam feito para chegar a cargos de liderança.
O resultado da pesquisa identificou três atitudes prioritárias para o avanço: planejar-se, integrar bem vida e trabalho e buscar visibilidade.
Criar e executar com confiança um plano de carreira, não se sentir culpada pelas decisões tomadas e ajudar outras mulheres a crescer são algumas das recomendações em cada uma dessas áreas, respectivamente.
"As dicas valem para homens e mulheres, mas o homem, em geral, se arrisca mais, acredita mais em si mesmo e aceita logo de cara um desafio. Já a mulher costuma ser muito crítica consigo mesma", diz Luciana Camargo, diretora de recursos humanos da IBM.
Visibilidade era um dos problemas de Mariana Ghizzi, 38, gerente de planejamento de malha logística da PepsiCo no Brasil.
"Meu primeiro grande feedback foi 'você está trazendo um monte de resultado, mas não vende seu trabalho'. O problema é que a mulher acha isso exagero, da mesma forma que pede desculpa por tudo. É algo que precisamos trabalhar", diz.
Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
Mariana Ghizzi na sede PepsiCo |
Um programa de mentoria, oferecido pela empresa, foi a ferramenta que a ajudou a valorizar mais seu trabalho e sentir-se confortável em divulgá-lo, afirma Ghizzi.
"Você não quer se vangloriar do trabalho, não quer ser a menina chata que fica falando o que faz", diz Renata Costa, 25, coordenadora de marketing da marca Sol, da Heineken, que passou pela mesma dificuldade.
Hoje, ela costuma mandar e-mails para os colegas para contar os resultados de um projeto que liderou e faz apresentações mensais em um fórum da empresa voltado para compartilhamento de boas práticas entre funcionários.
Mudança de comportamento individual não basta, contudo. Para especialistas, é preciso haver também ações institucionais.
Um estudo divulgado pela consultoria McKinsey em novembro deu 0,66 pontos ao Brasil no ranking de desigualdade de gênero, em que 1 é o mais igual e 0, o mais desigual. Diferença salarial, trabalho não remunerado e falta de representação política eram os critérios que reduziam a nota.
Segundo a professora da Fundação Getúlio Vargas Lígia Sica, em 2012, 51% das companhias brasileiras não tinham nenhuma mulher no conselho administrativo e 73,2% não tinham mulheres na diretoria.
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ESTRATÉGIA
Profissionais apontam dificuldades e dão dicas para superá-las
Visibilidade
Mulheres têm dificuldade para chamar atenção para seu trabalho
1 - Compartilhe resultados do seu trabalho com o resto da equipe em apresentações ou por e-mail
2 - Busque posições e tarefas que possam dar projeção dentro da empresa
3 - Avalie quais são os pontos fortes que você quer destacar e se eles são conhecidos por colegas e chefes e por pessoas de fora da empresa
Contatos
Frequentar eventos fora do horário de trabalho, como 'happy hours', é desafio para mulheres com filhos ou pais de quem precisam cuidar
1 - Aproveite e-mail e redes sociais para manter contato com colegas
2 - Não tenha vergonha de se apresentar e trocar cartões em eventos externos
3 - Convide pessoas de fora do seu departamento para um almoço ou café
Insegurança
As profissionais questionam mais sua própria competência do que homens
1 - Não deixe de se manifestar em reuniões e sempre se coloque de modo assertivo. Fale de modo objetivo e não levante dúvidas usando expressões como "talvez", "eu acho que", "eu gostaria, se possível..."
2 - Se quer ser promovida ou receber um aumento, peça. As pessoas precisam saber quais são suas pretensões para lembrarem do seu nome num momento de decisão
3 - Procure modelos de mulheres bem sucedidas na sua área e entenda quais ações e atitudes tomadas por elas podem ser replicadas por você
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