Crise impulsiona contratação de executivos temporários

O período de recessão aumentou a busca por um tipo específico de profissional: o executivo temporário. São gestores capazes de tomar decisões impopulares, como demissões e reestruturações, sem se preocupar com seu status na corporação ou com sua relação com os colegas.

Executivos temporários se dividem entre vários projetos

A WIL Group, agência global especializada em recrutar executivos temporários, viu seu negócio no Brasil crescer ao menos 30% ao mês no último ano.

	Marcus Leoni - 16.dez.2015/Folhapress
	O administrador Miguel Petribu em sua casa, em São Paulo

Ao contrário do típico trabalhador temporário, que ocupa vagas operacionais em períodos de alta nas vendas, o executivo interino assume projetos complexos e departamentos inteiros por um período que costuma durar entre seis meses e dois anos.

O trabalho frequentemente está relacionado a momentos como fusão, falência ou abertura de capital.

"Uma situação comum na crise é a empresa endividada que precisa de um gestor com habilidades para negociar com credores", diz Moises Assayag, diretor da WIL.

O administrador Miguel Petribu passou 17 anos como gestor das companhias de logística FedEx e DHL e hoje trabalha por projeto.

"Eu gosto da adrenalina de criar algo totalmente novo. Quando tudo já está nos conformes, me entedio e procuro outro desafio."
Petribu passou dois anos na empresa de ônibus Viação Cometa para implantar uma unidade de negócios de encomendas expressas. Antes, trabalhou três anos na TAM para remodelar a área de cargas e vendas on-line.

PERFIL

Nas empresas de recrutamento consultadas pela Folha, cerca de 15% dos trabalhadores temporários contratados atualmente são executivos, com salários entre R$ 10 mil e R$ 80 mil.

"São pessoas com passagem por pelo menos dez anos em grandes companhias e que optaram por seguir carreira em projetos independentes", diz Arthur Vasconcelos, diretor da CT Partners, empresa de recrutamento.

A maior parte das oportunidades está nas áreas financeira, farmacêutica, jurídica, contábil, de compras e de tecnologia. Em geral, o profissional precisa ter experiência acumulada em redução de custos, renegociação com fornecedores e implantação de novos sistemas e processos.

O administrador Carlos Augusto Gonçalves seguiu carreira de executivo por projeto após a empresa em que trabalhava em Taubaté (SP) fechar as portas.

Encontrou trabalho em uma fornecedora de autopeças que precisava profissionalizar o departamento de vendas.

"Percebi que havia várias pequenas e médias empresas interessadas em fazer negócios com as montadoras, mas sem uma estrutura comercial adequada. Eu me especializei neste tipo de trabalho e acabei indicado para vários projetos", afirma Gonçalves.

Há oito meses, ele lidera a área comercial da AGES, que fornece componentes plásticos e de iluminação para o setor automotivo.

"Meu desafio agora é desbravar novos mercados para a empresa. Com a crise, querem grandes resultados em pouco tempo. Mas é sempre assim, e é para isso mesmo que fui contratado."

*

GESTOR POR TEMPORADA
Como fazer o projeto dar certo em pouco tempo

1 - Qual é a missão?
Identifique o que, de fato, precisa ser feito. Por exemplo, quando o recrutador diz que precisa de um gestor para fazer o negócio crescer, pode ser que ele precise, na verdade, de alguém para reestruturar o departamento de vendas

2 - Qual é o calendário?
Defina claramente as etapas do trabalho. É tentador pular burocracias e decidir tudo por conta própria, mas para evitar decepções é necessário criar um cronograma e combinar a entrega de relatórios

3 - Quem manda?
Encontre o responsável por patrocinar o seu projeto dentro da empresa. Ter apoio interno é fundamental para legitimar o trabalho e garantir que até mesmo medidas impopulares serão tomadas caso sejam necessárias

4 - Qual é a expectativa?
Marque reuniões para definir os objetivos da empresa logo no início do trabalho e deixe claro que mudanças de rumo no meio do caminho podem afetar o prazo final