Moradores defendem 'bairros jardins'; urbanista critica modelo
DE SÃO PAULO
"Uma ilha verde, rodeada por um mar de prédios". Assim Candido Malta Campos Filho, presidente da Sajep (Sociedade dos Amigos dos Jardins América, Europa e Paulistano), vê os Jardins, região da zona oeste onde fica o Jardim América, o primeiro loteamento da Cia. City.
Conceito de 'bairro jardim' completa cem anos em São Paulo
A sensação de quem se perde por uma de suas ruas contorcidas pode ser a de estar fora de São Paulo. Mas, ainda que mantenha muitas das características originais e seja tombada desde 1986, a ilha verde mudou.
Entre as alterações, José Bicudo, presidente da Cia. City, ressalta uma positiva. Com o crescimento da mata e da vegetação, o verde se tornou mais exuberante.
Veja fotos do processo de urbanização pela Cia. City
Mas outra mudança -o surgimento de muros, cada vez mais altos- desagrada a quem admirava a bela arquitetura de algumas casas dos "bairros jardins".
José Eduardo de Assis Lefèvre, da USP, que viveu no Jardim América até completar 25 anos (em 1968), conta que andava de bicicleta por ruas muito agradáveis, de onde via as casas e o cultivo de flores.
Ele diz que hoje essa visão não é mais possível, pois as mesmas ruas se tornaram "corredores de prisões, com seus paredões com arame farpado e holofotes".
"Você não se sente mais num 'bairro jardim'," diz.
De acordo com Bicudo, nos projetos originais havia apenas cercas com no máximo um metro e meio de altura ao redor das residências.
Outra mudança que desagrada aos moradores e aos admiradores dos bairros é a grande quantidade de carros que estacionam nas vias. Rosely Ber, secretária da Saap (Sociedade de Amigos de Alto de Pinheiros), diz que o distrito se tornou um "megaestacionamento".
"Temos algumas ruas que ainda representam uma ilha de sossego, mas não dá para dizer isso do bairro em geral."
Editoria de Arte/Folhapress | ||
MUDANÇAS
Bairros como os criados pela Cia. City não são mais viáveis em São Paulo, segundo Regina Meyer, professora da FAU-USP.
De acordo com ela, a cidade precisa ser mais compacta e densa, contando com habitações de uso misto, residencial e comercial. Como exemplo, ela cita pequenos edifícios com comércio no térreo, que aproximam os serviços de seus moradores.
"O padrão da Cia. City, em vez de ser aprimorado, ficou absolutamente idêntico durante esses cem anos. Só que é um padrão impossível de ser seguido em São Paulo e se tornou elitista".
A urbanista Lucila Lacreta, do movimento Defenda São Paulo, diz considerar que os "bairros City" ainda são um exemplo:
"Nenhuma cidade do mundo é adensada uniformemente. Além disso, o verde funciona como um equilibrador ambiental", afirma. (DANIEL VASQUES)
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