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17/08/2014 - 01h30

Única opção para muitos inquilinos, seguro-fiança vira 13º aluguel

DANIEL VASQUES
DE SÃO PAULO

A empresária Cristiane Teodoro Affonso, 36, buscava dois imóveis para alugar: um comercial, para a sua empresa, e um residencial. Ela estava preparada para o aluguel e para custos como de água e luz, mas descobriu que, por não ter fiador, a conta ficaria mais salgada.

A razão é o pagamento do seguro-fiança, que serve para quitar aluguéis atrasados.

O preço do seguro-fiança varia conforme a cobertura ou até a renda do cliente. Pode ser só aluguel ou aluguel, IPTU, condomínio e danos, por exemplo. Os custos, normalmente, são de 1,3 a 2 aluguéis por ano. Na prática, vira um 13º aluguel (ou mais) por ano.

Contrato sem garantia de locação também é opção para proprietário do imóvel

Cristiane diz que, com o seguro do apartamento, a fatura foi de R$ 2.000 por ano. "Acredito que não valha a pena. É uma fortuna."

O seguro-fiança funciona como uma garantia para o locador. Se o inquilino não paga o aluguel por mais de dois meses, a empresa seguradora quita os meses atrasados durante todo o período do contrato.

O mercado de seguro-fiança cresce de forma acelerada (ver infográfico na página 4). Os valores pagos pelos segurados às empresas atingiram, em 2013, R$ 348 milhões, segundo a Susep (Superintendência de Seguros Privados). Em 2010, eram R$ 191 milhões.

Para o presidente do Creci-SP (conselho de corretores de imóveis), José Augusto Viana Neto, os valores são "proibitivos" para quem paga aluguéis de até R$ 1.000.

Dessa forma, desde 2009, o seguro segue representando cerca de 20% do total de garantias na capital paulista.

Para o inquilino, uma vantagem são os serviços diversos oferecidos pelas empresas, como de reparos no imóvel e de chaveiro, incluídos em parte dos pacotes disponíveis. Cristiane, por exemplo, diz que usou os serviços de conserto hidráulico, instalador de quadros e de varal.

Gustavo Epifanio/Folhapress
Sem fiador, Cristiane Teodoro Affonso teve que recorrer ao seguro-fiança e reclama dos preços
Por não ter fiador, a empresária Cristiane Teodoro Affonso precisou recorrer ao seguro-fiança e reclama dos preços

De olho em um segmento com margem para expansão, as empresas passam a dedicar mais atenção ao ramo de seguro-fiança.

Ele é praticamente dominado pela Porto Seguro que detém 93% do mercado, considerando a soma dos prêmios (valor pago pelos clientes às seguradoras) no primeiro semestre deste ano.

A empresa teve prêmios diretos de R$ 170,4 milhões. As outras companhias somadas embolsaram R$ 12,3 milhões no mesmo período, segundo dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados).

Não são apenas os clientes da Porto Seguro que as concorrentes buscam atrair, mas conquistar novos.

De acordo com uma pesquisa do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo) com 341 imobiliárias, 21% dos aluguéis na capital paulista tinham como garantia o seguro-fiança.

Mesmo permanecendo na casa dos 20% nos últimos anos, os prêmios cresceram a ponto de, no período de 2009 a 2013, terem quase dobrado de valor –de R$ 175 milhões para R$ 348 milhões.

Já os sinistros diretos, pagos aos clientes pelas companhias, subiram apenas 2,7% no período, de R$ 113 milhões para R$ 115 milhões.

Nos últimos anos, a expectativa era de aumento na participação dessa garantia entre os aluguéis, mas isso não ocorreu. Com a forte expansão dos valores e uma concorrência maior, essa possibilidade volta à tona.

Entre as empresas que miram o seguro-fiança, está a Bradesco Seguros, que começou neste ano a trabalhar com um projeto piloto que abarca o seguro residencial voltado para pessoa física.

Em setembro, deverá avançar para o restante do mercado, oferecendo produtos voltados ao segmento comercial.

"Em São Paulo, que tem 63% do mercado, somente cerca de 20% usam o seguro. É um raio de oportunidade. Vamos entrar para construir o mercado e atender às pessoas que não estão nele", diz Almir Ximenes Filho, superintendente-executivo da Bradesco Seguros.

Márcio Carneiro, gerente da seguradora Mutual, conta que a empresa busca dobrar as receitas em 2014.

Para Marcos Figueiredo, gerente de produtos tradicionais do grupo BB e Mapfre, o produto passou a chamar atenção da companhia e de outras seguradoras diante do mercado que ainda tem para ser conquistado.

"Um em cinco aluguéis tem seguro. Ou seja, há quatro para conquistar."

José Augusto Viana Neto, presidente do Creci-SP, lembra que a aposta das empresas ocorre em razão de uma mudança no mercado de locação. Isso porque muitas começaram e pararam, por causa da inadimplência alta.

PREÇOS

Para Ximenes Filho, do Bradesco, uma massificação do produto pode levar a uma tarifação mais baixa. A mesma opinião tem Márcio Carneiro, da Mutual.

Questionado se acha o preço alto, o superintendente de riscos financeiros e capitalização da Porto Seguro, Luiz Henrique, diz que o valor é "definido em função do potencial de risco e demais custos decorrentes da operação".

Para ele, a participação do seguro em 20% dos aluguéis pode ser considerada relevante, já que o mercado tem à disposição outras garantias (como fiador e depósito).

Ele acrescenta que, na relação com as imobiliárias, a Porto Seguro não exerce nenhuma imposição do seguro-fiança como única garantia possível para contratos.

Fernando Mola/Editoria de Arte/Folhapress
 

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