Simplicidade e cores tranquilas marcam os 30 anos da mostra Casa Cor
RAUL JUSTE LORES
DE SÃO PAULO
A depressão econômica fez algum bem à Casa Cor 2016. Em tempos de incerteza, saem os excessos que remetiam a Dubai, chegam bem-vindos ambientes com cores tranquilas e até um certo respiro entre um móvel e outro. Antes comuns, ambientes abarrotados de peças e referências são minoria agora.
Para quem busca o amanhã (que até pode demorar um pouco mais para chegar), a cozinha do futuro do arquiteto Guilherme Torres e da Todeschini traz uma geladeira em forma de armário embutido, com alimentos em prateleiras. Fica vizinha a uma longa mesa de inox, que permite cozinhar por sistema de indução, aposentando o velho fogão, e a uma bancada que oculta pia e máquina de lavar, e onde ficam embutidas de uma tábua para bater carne a uma lixeira que processa e recicla resíduos.
Uma aglomeração de cozinheiros de fim de semana babava com as engenhocas modernas -só uma cabeça de veado empalhada e um candelabro branco destoavam do futuro apresentado.
Um vagão de trem abandonado de 15 metros de extensão foi restaurado e virou uma sala retrô desenhada por Léo Shehtman. A parte externa do vagão foi decorada com grafite, expressão que já foi de contestação, mas anda mais entrosada com o establishment.
Uma casa feita de placas pré-fabricadas, onde evita-se o desperdício de água, luz e materiais de construção, foi criada pela dupla Rodrigo Mindlin Loeb e Caio Dotto.
Divulgação | ||
Bancada que oculta pia e máquina de lavar na cozinha do futuro de Guilherme Torres com a Todeschini |
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Geladeira se transforma em espécie de armário embutido, com os alimentos em prateleiras, na cozinha do futuro |
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Mesa de inox, que permite cozinhar por indução, aposenta o velho fogão na cozinha de Guilherme Torres com a Todeschini |
VERDE
O verde está presente por todos os lados da exposição no Jockey Club, muito além do marketing (ou da sinceridade) sustentável.
A entrada da trigésima edição da mostra de design e decoração é dominada pelo jardim do paisagista Alex Hanazaki, que conta com árvores pau-brasil e material cerâmico reaproveitado.
O verde continua no piso da sala da casa de praia de uma "família que gosta de velejar", como descrevem os sócios Fabio Basani e Tulio Xenofonte, do Urbano Studio.
Uma capa de coquinhos, como aquela dos taxistas nos anos 1970, cobre o sofá. Os materiais populares continuam até na adega, feita de blocos de concreto vazado, criação do escritório TriArt.
Nos espaços onde o olhar pode repousar estão a sala íntima de Alexandre Dal Fabbro, com cores claras, referências à arquitetura brasileira e uma ótima foto do Corcovado em destaque, e o ambiente Shoji 4, da Yamagata Arquitetura, batizado com o nome daqueles painéis de correr preenchidos com papel, tão característicos do Japão tradicional.
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Sala íntima feita por Alexandre Dal Fabbro |
AMBIENTES CONTIDOS
Entre muitos ambientes contidos, destaca-se o humor da sala de música de Michel Safatle. Com aparelhos de som cada vez menores e portáteis e a internet das coisas sem fio, ele espalhou belas poltronas e uma parede revestida de retratos da cantora e performer transsexual Amanda Lepore, um antídoto contra qualquer caretice. Uma foto de teatro visto do palco domina a ribalta desse ambiente masculino e clássico -dá para imaginar os charutos acesos por ali.
Outro ambiente masculino é a biblioteca do barista, de autoria de Olegário de Sá e Gilberto Cioni. Nela, o café é a desculpa para reunir os amigos em poltronas Sergio Rodrigues, com caixas de madeira embutidas na parede servindo de estantes.
Na área externa, destaca-se o espaço aconchegante criado pelo arquiteto René Fernandes. Ali, o "ninho" trançado e resistente da companhia alemã Dedon faz um sofá suspenso ganhar balanço de rede, podendo ser pendurado na varanda ou até em uma árvore. Em tempos de crise, um casulo protetor e escapista.
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