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17/02/2013 - 05h30

Empresários testam serviços para ganhar dinheiro com música

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

No ano passado, nos EUA, houve uma queda de 13,5% na venda de CDs de música, segundo relatório da Nielsen.

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Já é claro que essa forma de ganhar dinheiro, a das grandes gravadoras e a da venda de CDs, não será mais a dominante. Mas isso "não representou o fim do consumo musical", como diz Eduardo Vicente, professor da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP.
Ao mesmo tempo, não se sabe ao certo de que maneira os artistas vão ser remunerados pelas suas canções. Mas sabe-se que o futuro está na internet, que, "em um primeiro momento, foi uma ameaça", diz Vicente.

Nesse cenário nebuloso, novas empresas lançam produtos e serviços inéditos, que, em alguns casos, não têm nem modelo de negócios.

Para o pesquisador Leonardo De Marchi, 35, que faz pós-doutorado sobre esse assunto na ECA, o mercado de música vive um momento que os economistas chamam de "fase schumpeteriana" (do austríaco Joseph Schumpeter, economista que ressaltou a importância da inovação e popularizou o termo "destruição criativa"): "É a fase de experimentação, em que várias novas empresas fazem apostas. É evidente que muitas start-ups (negócios iniciantes de base tecnológica) vão falir, mas algumas vão funcionar muito bem".

A norte-americana OneRPM é uma das que tentam prosperar. A empresa espera ter uma receita de pelo menos US$ 1 milhão (R$ 1,96 milão) em 2013. O negócio, destaca o diretor-executivo Emmanuel Zunz, 39, começou devagar, em 2010, mas ele diz que irá melhor neste ano.

A OneRPM é uma distribuidora digital de artistas. Eles atuam de diversas maneiras pela web, mas a principal é colocando músicas em sites de vendas digitais, como iTunes Store ou Amazon. "Cada loja tem suas especificações de formatos de dados, e cada país, suas políticas de direitos autorais. Tudo isso é complexo e exige muito 'know-how'." A distribuidora também faz marketing para os artistas dentro das lojas para que o conteúdo deles apareça com destaque.

A empresa cobra 15% do que sobra, depois que a loja on-line toma a sua parte.

Zunz, um norte-americano que já morou em São Paulo, aposta no mercado brasileiro. Entre os artistas com quem ele tem contrato há alguns famosos, como Erasmo Carlos e a dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó, e outros do cenário alternativo, como o rapper carioca BNegão.

A cantora Tulipa Ruiz e a OneRPM estão "em começo de relação", segundo ela. O primeiro disco da cantora foi disponibilizado gratuitamente, o que impediria o negócio com a distribuidora, mas Tulipa diz que não tem "cartilha" para seguir. Para De Marchi, distribuir fonograma gratuitamente é uma ideia que perdeu força. "As pessoas estão assumindo que podem pagar por música e os empresários estão elaborando modelos de negócios para isso."

A estratégia de dar de graça (ou cobrar muito pouco) pela música faz mais sentido para bandas ou cantores iniciantes. O rapper Emicida, por exemplo, vendia CDs por R$ 2 no começo de carreira, mas não faz mais isso, pois hoje tem um público maior e encontra "mais pessoas dispostas e com condições de pagar por música". Ele está mais atento ao comércio digital, pois considera que as receitas desse mercado são melhores depois que um nome torna-se mais conhecido.

Para Tulipa, "o público tem perfis diferentes: há quem compra, quem baixa, quem ouve em 'streaming' etc. Eu quero falar com todos eles."

Um dos outros novos canais para achar o público é a ReDigi. Trata-se de um site que vende arquivos digitais de "segunda mão".

O site faz a intermediação da venda -a transação ocorre entre quem já se cansou de uma música e não a quer mais e quem tem interesse nela.

A ideia é, no futuro, vender outros tipos de mídias, como aplicativos ou softwares. Mas começaram com músicas e já receberam um processo da gravadora EMI (a ação está correndo).

Os preços dos bens digitais usados variam. Uma canção de um disco antigo da cantora Cat Power que sai por US$ 0,99 (R$ 1,94) na iTunes Store custa US$ 0,69 (R$ 1,35) na ReDigi. O site fica com cerca de 12%. A diretora Jaclyn Inglis explica que o autor da música é remunerado com a nova venda.

FUTURO VINTAGE

Outra iniciativa inédita nesse nicho é um aplicativo para celular para comercialização de vinis: "Será possível comprar, vender e enviar discos de vinil para qualquer lugar no mundo", explica o fundador da Vnylst, Osandi Sekoú Robinson.

Robinson, que é dos EUA, está confiante no futuro do vinil. Ele cita as vendas crescentes nos EUA. O último relatório da Nielsen aponta um aumento de 17,7% em 2012, chegando a 4,6 milhões de discos (a título de comparação, foram 193 milhões de CDs, queda de 13,5%, e 118 milhões de discos digitais, alta de 14,1%).

A operação ainda não teve início -Robinson não revela valores, não diz quando irá lançar o aplicativo nem dá detalhes de como irá funcionar. Mas, questionado se será algo como um "marketplace" (semelhante ao Mercado Livre) só de vinis, ele não nega.

Outro aplicativo que ainda não lançado chama-se FanClub. Quem está por trás dele é o norte-americano Bojan Jovanovic. Por anos ele trabalhou em uma prestigiada agência de artistas chamada Windish, que faz intermédio de contratação para shows.

Jovanovic foi responsável por bandas como Chromatics. "Como agente, notei que as pessoas querem interagir mais. Eu era responsável pelo Neon Indian [banda de "chill-wave", um subgênero de música eletrônica]. Eles nunca tinham tocado ao vivo, e a primeira apresentação ficou lotada. Isso nunca teria acontecido há dez anos."

A intenção é lançar um aplicativo que servirá como uma ferramenta para três propósitos: ouvir novas músicas, saber quais artistas seus amigos estão escutando e obter informações sobre shows vindouros na cidade.

Com isso, os fãs de música não precisam ir para diferentes lugares na internet para descobrir novos artistas e saber de shows.

Ele ainda não sabe como irá ganhar dinheiro com isso. Para Jovanovic, a ideia, neste momento, é fazer "algo que as pessoas queiram usar".

Não são só os norte-americanos que começam novos negócios na música. A Sync Originals, empresa de São Paulo, é uma tentativa de negociar músicas para sincronização em vídeos de publicidade. Sincronizar é a palavra que se dá ao uso comercial de uma canção.

Afonso Marcondes, sócio da empresa, explica que eles escolhem artistas e os convidam para serem representados, depois disso, vão ofertar suas canções às agências de publicidade.

Ele afirma que, dessa forma, sai mais barato para as agências do que o método mais comum, que é encomendar música sob medida.

A empresa fica com 20% a 50% do valor de venda. A expectativa é que em 2013 eles consigam R$ 750 mil em sincronização.

PELO TELEFONE

Outro empreendedor brasileiro que busca ampliar seu mercado nesse cenário que muda rapidamente é Paulo Lima, 42, sócio e diretor-executivo da iMúsica.

A empresa atua em várias frentes, mas, segundo Lima, 80% do faturamento vem da relação com as operadoras de telefonia.

O usuário de celular pode comprar canções das lojas das operadoras para usar de diversas formas, como "ringtone" (toque do telefone), como música de espera para seus interlocutores ou mesmo para escutar em seu aparelho. A iMúsica coloca as canções no formato correto para serem vendidas pelas operadoras de celular e ganha uma porcentagem da receita de cerca de 20%.

A empresa teve de se adaptar para sobreviver no mercado fonográfico. Eles começaram como um site para vender arquivos digitais em 2000, mas em 2004 o negócio foi alterado para atuar como um licenciador e distribuidor de música digital.

A trajetória da empresa representa bem como a internet passou a ser um meio possível para ganhar dinheiro com música. Na década passada, afirma Lima, "não tinha infraestrutura e os preços para os consumidores eram muito altos".

"Agora, de uma forma mais sutil, as coisas estão acontecendo", diz Eduardo Vicente.

 

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