Cresce temor de que empresas bilionárias de tecnologia estejam muito parecidas
QUENTIN HARDY
DO "NEW YORK TIMES"
O número de empresas iniciantes de capital fechado com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão, no Vale do Silício, choca até mesmo os executivos que as dirigem.
"Eu achava que fôssemos especiais", diz Phil Libin, presidente-executivo da Evernote, uma companhia que oferece armazenagem on-line de recortes, fotos e anotações a usuários pessoais, ao enumerar as demais empresas que, como a sua, ultrapassaram a avaliação de US$ 1 bilhão.
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Ele criou a Evernote em 2008, pouco antes da recessão, e promoveu seu crescimento metodicamente.
Jim Wilson/The New York Times | ||
Robert Tinker, da MobileIron, que faz softwares para empresas que administram smartphones e tablets |
"Muitos de nós não tinham como objetivo conseguir uma avaliação tão alta; estávamos só tentando criar um negócio duradouro", diz Libin. "Não há mais setores seguros, nem mesmo aqui."
Mas um número sem precedentes de empresas iniciantes de tecnologia, pelo menos 25 e talvez mais de 40, já tem avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão. Muitos funcionários vêm enriquecendo silenciosamente, ou ao menos criando defesas sólidas contra um possível "crash", com a venda de ações a investidores externos. Airbnb, Pinterest, SurveyMonkey e Spotify estão entre as mais conhecidas das companhias de capital fechado cuja valorização atingiu o US$ 1 bilhão. Mas muitas outras companhias, menos conhecidas do público, como a Box, Violin Memory e Zscaler, estão chegando lá, via vendas de serviços a outras empresas.
"Dentro de um ano, o número pode chegar a 100", diz Jim Goetz, sócio da Sequoia Capital, uma companhia de capital para empreendimentos.
A Sequoia conta com uma dúzia dessas companhias em sua carteira de investimentos. Isso é parte do que Goetz define como "mudança permanente" na maneira pela qual as pessoas constroem suas empresas e pela qual o setor financeiro força a alta de suas avaliações.
Jim Wilson/The New York Times |
Phil Libin, da Evernote, empresa de tecnologia que armazena fotografias e outras informações; cresce número de empresas no Vale do Silício que valem mais de US$ 1 bilhão |
Os proprietários dessas empresas dizem que as avaliações os espantam, mas também criam inquietação. No passado, atingir o valor de US$ 1 bilhão era um marco; agora, é também um fardo, porque as expectativas crescem e precisam ser administradas, e uma maior incerteza se manifesta.
Os investidores e executivos apontam para diversos motivos que justificariam essas avaliações generosas. As taxas de juros são baixas, o que torna fácil para os grupos de capital privado formar grandes participações nessas empresas. Jovens milionários da tecnologia e investidores estrangeiros ricos como Yuri Millner, o bilionário russo, também vêm investindo diretamente. E à medida que eles investem mais nas empresas iniciantes, os lances a serem oferecidos pelos demais interessados têm de subir.
Jim Wilson/The New York Times |
David Goldberg, da Survey Monkey, que tem sede em Palo Alto, na Califórnia |
No mês passado, o valor do Twitter, criado em 2006, atingiu os US$ 9 bilhões, com base na oferta da administradora internacional de investimentos BlackRock por ações detidas pelos funcionários da empresa. No dia de sua abertura de capital, em 1986, a Microsoft tinha 11 anos de idade e seu valor de mercado era de apenas US$ 778 milhões, o equivalente a cerca de US$ 1,6 bilhão atuais considerada a inflação do período.
O Pinterest, um site de álbuns virtuais que tem receita zero, atingiu valor de quase US$ 1,5 bilhão em três anos. A Amazon.com abriu seu capital em 1997, depois de apenas três anos de operação, com valor de mercado de apenas US$ 438 milhões. E no ano fiscal de 1997 seu faturamento foi de quase US$ 16 milhões. Os empresários do Vale do Silício alegam que a espiral de preços não sinaliza uma nova bolha da tecnologia. Para eles, os preços altos são razoáveis porque, afirmam, inovações como os celulares inteligentes e a computação em nuvem reconstruirão totalmente o setor de tecnologia, que já movimenta centenas de bilhões de dólares anuais.
Além disso, muitas das companhias que se tornaram bilionárias, como a MobileIron, Pure Storage, DDS e SurveyMonkey (que duas semanas atrás levantou US$ 794 milhões em capital e foi avaliada em US$ 1,35 bilhão), vendem produtos e serviços primordialmente a outras empresas.
Para cada Dropbox, um serviço que oferece armazenagem de dados primordialmente para consumidores e foi avaliado em US$ 4 bilhões, há pelo menos duas outras companhias pouco conhecidas, como a Zscaler, que oferece serviços de segurança de dados para empresas, e a Palantir, que oferece análise prospectiva de dados, com valor superior a US$ 1 bilhão. Vender a grandes empresas é considerado como risco menor do que a venda ao consumidor.
"Há perturbações em toda parte", disse Robert Tinker, presidente-executivo da MobileIron, que produz software para empresas que administram celulares inteligentes e tablets. "Os serviços móveis causam perturbação no mercado de computadores pessoais, que movimenta bilhões de dólares. A computação em nuvem perturba os servidores e a armazenagem de dados, segmentos também bilionários. A mídia social pode ser uma daquelas raras coisas que são completamente novas."
Com relação ao tamanho dos mercados que os serviços móveis, computação em nuvem e mídia social vêm deslocando, diz ele, as avaliações são razoáveis.
Mas a maioria dos presidentes-executivos dessas empresas são veteranos da bolha da Internet do final dos anos 1990. E se confessam preocupados com a possibilidade de que as coisas não sejam diferentes desta vez. Tinker, 43, dirige um Ford Explorer 1995 que já rodou 430 mil quilômetros.
"Se alguém vem a uma entrevista de emprego dirigindo um carro de US$ 100 mil, sei que ele não tem fome", diz o executivo. "A realidade é que recebemos US$ 94 milhões em dinheiro de investidores, e ainda não abrimos nosso capital. Sinto essa responsabilidade todos os dias."
Cresce a preocupação com a possibilidade de que o clube das start-ups (empresa de base tecnológica) bilionárias esteja engordando com empresas muito parecidas umas com as outras.
"Todo mundo diz ter uma tecnologia especial para computação em nuvem e que por isso deve ter sua empresa avaliada por 20 vezes o valor de seu faturamento", diz Jay Chaudhry, presidente-executivo da Zscaler. "Em alguns casos isso é verdade, mas outras companhias estão seriamente distendidas. Elas não vão se dar bem lá fora".
O medo persistente é o de que as avaliações, que só se tornarão lucros caso as empresas abram seu capital com sucesso ou sejam adquiridas por valor elevado, venham a despencar.
O Groupon, que oferece descontos diários, rejeitou uma oferta de aquisição de US$ 6 bilhões feita pelo Google em 2010. Agora que abriu seu capital, seu valor de mercado é de US$ 3 bilhões. O Zipcar, um serviço que organiza transporte solidário, foi avaliado em US$ 1,2 bilhão quando da abertura de seu capital, em abril de 2011, mas em janeiro foi adquirido pelo Avis Budget Group por apenas US$ 500 milhões.
A estreia das ações do Facebook, claro, serve como maior alerta quanto a avaliações elevadas. A companhia registrou alta modesta no primeiro dia em bolsa, e quatro meses mais tarde havia caído em 50%. O Facebook se recuperou um pouco depois disso, mas outros executivos ainda zombam do acontecido em sua oferta inicial.
Os fundadores das companhias de alta avaliação têm idade suficiente para recordar crises do passado, e muitos rejeitam o estilo de vida suntuoso, as festas e os carros esporte.
Libin, filho de imigrantes russos que diz ter crescido no Brooklyn, em uma família que dependia de cupons de alimentação do governo, se tornou milionário ao vender a Engine5, sua primeira companhia, à Vignette, em 2000.
"Na companhia para a qual eu vendi a minha, as pessoas tinham Lamborghinis púrpura na garagem", conta. "Eu comecei a colecionar relógios. Só meia dúzia, nada de valor maior que US$ 10 mil, mas eu me deixei levar e comprei um aparelho elegante, de couro e metal, para dar corda aos relógios".
A Evernote começou no momento em que a crise financeira explodiu.
"Houve uma noite em que eu estava quase falido de novo, e lá estava o aparelho de dar corda a relógios mecânicos na estante, rindo de mim", ele afirma.
"Há insegurança em todos os trabalhos, hoje", diz Libin. "As pessoas vendem 10% de suas ações e têm incentivo para trabalhar pela alta dos 90% restantes. Elas continuam trabalhando, mas não se preocupam mais com o que será de sua casa ou de seus filhos."
Tradução de Paulo Migliacci
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