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25/10/2015 - 02h00

Exportações de pequenas empresas crescem, mas burocracia ainda assusta

FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO

Osasco (SP) pode estar mais perto de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, do que se imagina -ao menos, no mapa da Goz Cosméticos, cujos produtos levam três dias de avião para chegar ao Oriente Médio contra 28 dias de caminhão até Manaus (AM).

Cerca de 30% do faturamento da indústria sai da exportação, diz o diretor comercial, Leandro Tavitian, 37.

Neste ano, foram levantados US$ 250 mil (R$ 983,8 mil) em vendas para Iraque, Arábia Saudita, Kuait, Qatar, México, Costa Rica e Estados Unidos, entre outros.

Mapa de exportações

Em 2014, 15.819 empresas de micro, pequeno e médio porte enviaram seus produtos para o exterior, o que representou alta de 9,8% no valor exportado em relação a 2013, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior.

O número, porém, ainda é ínfimo: não chega a 0,3% dos 6,3 milhões de micro e pequenos negócios em operação no país, segundo o Sebrae.

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O desinteresse é resultado da falta de informação e da burocracia, afirma Tom Pierre da Silva, professor de gestão de negócios internacionais da FGV.

Um empresário precisa hoje contatar 22 setores do governo para exportar, diz David Barioni, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex). Mas ele adianta que uma reforma prevista para 2016 reduzirá em 40% os custos administrativos da operação.

PRA LÁ DE MARRAKECH

Zanone Fraissat/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 21-10-2015 - Retrato de Leandro Tavitian, diretor da Goz Cosméticos, empresa que exporta para países árabes e Estados Unidos. (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress, COTIDIANO) ***EXCLUSIVO FOLHA****
Leandro Tavitian, diretor da Goz Cosméticos, na fábrica da exportadora, em Osasco (SP)

Os portugueses chegaram ao Brasil em busca de temperos e outras especiarias para comercializar com o mundo. Mais de 500 anos depois, essa é a atividade de George Lage, 34, fundador da Phyto Planet, de Nova Lima (MG), que exporta coentro, açaí em pó, graviola e carqueja, entre outros, para 52 países.

Lage consegue clientes participando de feiras internacionais (em média, cinco por ano) e pelo site Alibaba, em que paga US$ 3.000 anuais para ter acesso a negócios de todo o mundo.

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O investimento é alto, e inclui ainda gastos com certificações sanitárias -só na FDA (a agência de controle de medicamentos e alimentos dos EUA), foram US$ 700 para registrar os produtos.

Para o empresário, a despesa vale a pena porque exportar traz segurança. "Você pulveriza o mercado. Se a Rússia vai mal, eu tenho a Coreia do Sul", afirma.

A atual retração da demanda interna mostra que não é possível depender só do Brasil, diz David Barioni, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex). Segundo ele, a vantagem do comércio exterior é que ele compensa um cenário ruim nacional.

Um benefício indireto é a melhora da qualidade dos produtos, que precisam ser adaptados para atender as exigências do mercado internacional, mais competitivo.

Cláudia Thomé investiu cerca de R$ 75 mil para adequar as linhas de enxoval de bebê da Começo de Vida, com sede em Concórdia (SC). Os gastos serviram para reformular as embalagens e o marketing e certificar a mercadoria -comprovando que não usa trabalho escravo, por exemplo, exigência dos EUA.

"É ingenuidade achar que é fácil exportar, porque é um mercado altamente competitivo", afirma Thomé.

O plano começou em 2014, quando a empresa foi selecionada pelo Sebrae para participar do ExportaSC, projeto que pretende conectar 50 negócios ao mercado americano.

Divulgação
Cláudia Marcon Thomé, empresa de produtos para bebês Começo de Vida
Cláudia Thomé, diretora da Começo de Vida, em Concórdia (SC)

A iniciativa busca combater o medo que pequenos têm de vender para o exterior, por falta de informação, diz o consultor Thiago Brandão.

Com o mesmo objetivo, a Apex criou o Projeto Extensão Industrial Exportadora, em que identifica os países que oferecem oportunidades para cada negócio, apoia a participação em feiras internacionais para prospecção de clientes e faz orientações sobre trâmites burocráticos e logísticos, gratuitamente.

O alvo é o mercado sul-americano, em especial o Mercosul, onde o comércio é facilitado no bloco. Além da proximidade geográfica, são países acostumados com produtos brasileiros.

SEGUNDA OPÇÃO

De acordo com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior, 42,5% das pequenas empresas que exportaram em 2013 não voltaram a fazê-lo no ano seguinte.

Para Brandão, do Sebrae, a taxa de desistência alta é resultado de falta de planejamento. O empresário é procurado por um importador, faz uma venda, mas não dá continuidade à operação.

O sumiço dos brasileiros é uma das principais queixas que Barioni, da Apex, ouve de parceiros internacionais. "Eles reclamam que as empresas fazem um, dois contratos e, quando a demanda interna reaquece, esquecem lá fora."

A priorização do mercado doméstico, porém, é a recomendação de Roberto Lima, professor de finanças da Fundação Vanzolini. Por exigir um capital alto e ser mais complexa que a venda doméstica, distribuição internacional deve ser feita apenas quando não houver espaço para crescimento interno.

Ele defende que ainda há demandas não atendidas no Brasil e prevê que novas oportunidades vão surgir para substituir produtos importados, encarecidos pela alta do dólar.

 

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