Falta escola para filhos de executivos estrangeiros
FELIPE MAIA
DE SÃO PAULO
GUILHERME MACIEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há dois anos, o sócio tributário da consultoria Ernst & Young, Serge Huysmans, 42, foi transferido para o Brasil. Trouxe a mulher e os três filhos pequenos, mas não conseguiu matricular as crianças em nenhuma das escolas bilíngues de elite de São Paulo. A falta de vagas fez com que o executivo negociasse com a empresa e trocasse a cidade pelo Rio de Janeiro.
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A situação da família de Huysmans não é única. De acordo com Ana Maria Giesbrecht, sócia-gerente da Focal Point, empresa especializada na adaptação de profissionais estrangeiros ao Brasil, o problema tem se intensificado nos últimos dois anos, em razão do maior número de profissionais expatriados atuando no país.
Marcos Michael/Folhapress | ||
Serge Huysmans trocou São Paulo pelo Rio pela falta de escola para os filhos |
"Já tive casos em que o executivo decidiu não vir, ou vir sem a família, pela falta de escola para os filhos."
Dados do Ministério do Trabalho indicam que o número de autorizações de trabalho para estrangeiros no Estado de São Paulo cresceu 33% entre 2010 e 2011, totalizando 34 mil. Neste ano, o número chegou a 22,6 mil até o fim de setembro.
Atualmente, as principais escolas internacionais têm fila de espera, variável de acordo com a série. No caso da Graded -The American School of São Paulo, uma das prediletas dos executivos de alto escalão e que hoje trabalha na capacidade máxima, há cerca de 800 alunos esperando por uma vaga, entre brasileiros e estrangeiros.
As escolas têm receio de ampliar a estrutura para receber mais alunos e depois ter prejuízo se a demanda que hoje está impulsionada pela vinda de estrangeiros ao país diminuir. "Abrir uma unidade em São Paulo é caro e é um processo que envolve muito treinamento, é algo que demora", diz Kevin Flurry, diretor da escola Paca (Pan American Christian Academy).
A abertura de um novo colégio britânico em São Paulo foi a salvação para a família da americana Daiva Fergestad, 45, que se mudou para a cidade no ano passado -o marido dela é executivo de uma fabricante de motores e foi transferido para o país.
Caio Kenji/Folhapress | ||
Daiva Fergastad conseguiu matricular os gêmeos Justin e Alex em um novo colégio para estrangeiros |
Depois de ficarem na lista de espera de colégios mais tradicionais, sem sucesso, os filhos gêmeos de nove anos foram matriculados no British College of Brazil, que começou a funcionar no ano passado em São Paulo.
"Nós estávamos preocupados, mas havíamos decidido que não viríamos ao Brasil se não encontrássemos uma escola. Ainda bem que tivemos essa sorte", diz Fergestad.
Enfrentam esse problema executivos de alto escalão que podem pagar, em média, R$ 4.000 de mensalidade nas escolas internacionais mais conceituadas de São Paulo.
De acordo com o ministério, em 2011, foram emitidas 901 autorizações de trabalho para a classe de profissionais que engloba diretores, gerentes e executivos com poderes de gestão, uma alta de 15,5% em relação ao ano anterior.
PREÇOS INFLACIONADOS
Em grande parte dos casos, os recursos para pagar mensalidades escolares estão inclusos no pacote de benefícios pago pelas multinacionais para os profissionais que se transferem do exterior.
Isso aumenta o investimento que as empresas têm de fazer para "importar" profissionais estrangeiros. "Quando você junta escola, carro e aluguel de um apartamento em São Paulo, precisa pagar um dos salários mais altos do mundo", diz o português João Nunes, 31, diretor da empresa de recrutamento Michael Page.
A inglesa Natasha Petel, 29, gerente da consultoria Hays, diz que a escola é uma preocupação especialmente para profissionais que vêm trabalhar no Brasil sem esse pacote de benefícios ou o apoio de empresas que os ajudam na adaptação ao país.
"Quando o executivo vem para o Brasil com filhos, precisa pensar bem, porque as crianças precisam estar em um ambiente em que falem inglês e aprendam português em paralelo, e isso pode sair bem caro."
Para Nunes, que mora no Brasil há um ano, São Paulo precisa de mais escolas para atender à crescente demanda dos profissionais internacionais na cidade.
"Há poucas escolas bilíngues de qualidade para a dimensão da cidade, e as que existem não têm vagas suficientes", diz o executivo, que não teve dificuldades para matricular a filha de dois anos. "Ela ia entrar no maternal. Se fosse mais velha, seria mais difícil."
Eliana Amaral, da consultoria Overseas, afirma que uma saída é indicar instituições brasileiras com currículo bilíngue. Mas a maioria dos expatriados busca escolas com currículo internacional. Assim, quando voltarem ao país de origem, a educação dos filhos não ficará comprometida. Escolas americanas também facilitam o acesso às universidades dos EUA.
"O problema das escolas bilíngues é que, fora das aulas em inglês, o ambiente todo é em português, o que dificulta a adaptação", opina Huysmans.
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