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20/01/2013 - 05h35

Cresce o movimento dos 'profissionais sem-mesa' nas empresas

FELIPE MAIA
DE SÃO PAULO

Uma pesquisa divulgada pela empresa Regus em 2012 mostrou que 28% dos profissionais brasileiros acham essencial ter fotos da família na mesa de trabalho. Algumas empresas estão colocando esse capricho em xeque.

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Companhias começam a estimular funcionários a sentar cada dia em um local diferente no escritório. Nesses lugares, os itens pessoais são carregados na mochila ou deixados em um armário pessoal dentro da empresa.

Quem adotou o modelo defende que o fim da mesa fixa no escritório aumenta a colaboração entre diferentes departamentos e dá mais flexibilidade aos funcionários --em geral, a estratégia faz parte de programas que permitem trabalhar em casa alguns dias por semana.

Ze Carlos Barretta/Folhapress
Renata Patu diz que mobilidade faz relação profissional ficar mais madura
Renata Patu diz que mobilidade faz relação profissional ficar mais madura

Erika Szabo, consultora de engenharia da Cisco, diz que não sente falta de ter os pertences pessoais à disposição em uma mesa de trabalho fixa. Ela carrega tablet, smartphone e, às vezes, notebook, e pode escolher onde trabalhar, dependendo de aspectos como o humor e o que vai fazer naquele dia.

"Às vezes, tenho trabalhos mais introspectivos, desenvolvendo treinamentos ou preparando apresentações. Em outros momentos, estou interagindo com outras pessoas. Ter essa mobilidade ajuda muito", afirma.

Paulo Pegoraro, 36, gerente de serviços de consultoria em infraestrutura da Dell, concilia o "home office" (trabalho em casa) com dias em que vai ao escritório, nesse esquema rotativo. Ele diz que isso o ajuda a conhecer mais os colegas, já que a cada dia pode sentar-se ao lado de alguém diferente.

"Você se sente compelido a falar com aquela pessoa. Posso conversar com alguém de fora da minha área e acabo entendendo melhor como funcionam outros departamentos da empresa."

Na Dell, essa rotatividade foi implantada em 2011 no escritório de São Paulo e agora começa a ser adotada no de Porto Alegre. Pessoas que não necessitam de infraestrutura física para trabalhar, como vendedores e desenvolvedores de software, podem chegar à empresa e trabalhar em qualquer lugar.

Segundo Flávia Porto, consultora de RH da empresa, a medida favorece a inovação. "Quando você está em volta de pessoas de só uma área, limita-se a conhecer colegas que estão no dia a dia da sua atividade. Ao juntar gente de processos diferentes, há uma troca maior de ideias."

Ricardo Amorim, 39, gerente de marketing da empresa do ramo farmacêutico Boehringer Ingelheim, destaca que é mais fácil trabalhar nesse esquema especialmente quando desenvolve um projeto com alguém que não é da área dele.

Fernanda Frazao/Folhapress
Paulo Pegoraro alterna dias de trabalho em casa e no escritório, sem local fixo
Paulo Pegoraro alterna dias de trabalho em casa e no escritório, sem local fixo

"Quando você precisa passar muito tempo trabalhando com uma pessoa, já se senta próximo a ela e não há necessidade de reservar uma sala de reunião para isso. Resolve-se o dia a dia de trabalho de forma mais natural."

A empresa adotou o esquema quando se mudou para um novo escritório em São Paulo, com capacidade menor. Os profissionais, então, trabalham em casa um dia por semana e, quando vão à sede, não têm posto fixo.

Mas foi necessário fazer ajustes no modelo: no começo, ninguém tinha mesa ou lugar definidos, mas houve um passo atrás e agora a empresa definiu que os profissionais de cada área de negócio devem procurar sentar-se próximos. "Pessoas de áreas como RH e finanças, às vezes, precisam tratar de assuntos sigilosos, e isso pedia um espaço mais reservado", afirma Alessandro Gruber, gerente de RH da companhia.

MENOS SUPERVISÃO

Entretanto, nem todos profissionais se adaptam a esse tipo de inovação. Alvaro Mello, coordenador do Centro de Estudos de Teletrabalho e Alternativas de Trabalho Flexível da Business School São Paulo, diz que as empresas devem fazer avaliações para verificar se o funcionário tem capacidade para produzir trabalhando sob menos supervisão.

É preciso, por exemplo, saber gerenciar bem o tempo e ter bom conhecimento do trabalho para realizá-lo com autonomia. "Tanto os indisciplinados, que não cumprem prazos, quanto os 'workaholics' podem ter problemas para trabalhar assim."

Renata Patu, 38, gerente de suprimentos da Unilever, que trabalha "sem mesa" desde 2012, diz que a distância faz com que as relações profissionais sejam mais maduras.

"Isso gera um grau de confiança entre você, o seu chefe e a sua equipe. O trabalho fica mais comprometido com o resultado", diz.

Em geral, os profissionais "sem mesa" recebem da empresa um laptop com ferramentas de mensagens instantâneas e de teleconferência.

"Procuro me policiar para não usar o e-mail e o sistema de mensagens de forma desnecessária. Se a pessoa está próxima de você, é melhor ir lá conversar em vez de ficar falando virtualmente", afirma Amorim

LIDERANÇA REMOTA

Para os profissionais em função de chefia, essa mobilidade traz desafios. É preciso aprender a liderar os funcionários mesmo que eles não estejam ao alcance dos olhos o tempo todo.

Andrea Huggard Caine, diretora de certificação profissional da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos), afirma que é importante que os gestores estejam sempre em contato com os subordinados e avaliem o trabalho deles constantemente.

"É importante ter disciplina para não perder o momento. Tem que pegar o telefone e dizer: 'Fulano, não gostei disso'", recomenda.

Também é importante marcar reuniões periódicas ou mesmo reuniões informais para que os profissionais mantenham contato.

"As pessoas precisam entender que a formação do vínculo não depende de trabalhar cara a cara com a equipe que está no projeto", afirma Lucyane Rezende, diretora de RH da Unilever.

 

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