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29/07/2013 - 03h17

Curso livre a distância passa a dar certificado

REINALDO CHAVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A fisioterapeuta e professora Giana Ramos, 27, sentia a necessidade de melhorar seus conhecimentos de didática, mas não tinha recursos ou tempo para, por exemplo, fazer uma segunda graduação de pedagogia.

"A solução que encontrei foi fazer cursos on-line de psicologia da educação e de tecnologia. Eram aulas com duração de uma semana, mas fiz um intensivão de dois dias. Isso já me ajudou na elaboraração de questões e avaliação dos meus alunos."

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Esses cursos on-line de cerca de 10 horas, com vídeos e animações e conteúdo aberto (pinçam conhecimentos de uma graduação) são conhecidos mundialmente como MOOCs (Massive open on-line course, ou curso on-line aberto de massa), com milhões de alunos pelo mundo e em grande parte com aulas gratuitas e até com certificações.

As tímidas primeiras iniciativas começaram em 2003 na UKeU, empresa que disseminava aulas de universidades do Reino Unido. Mas foi apenas no ano passado nos EUA que ocorreu uma convergência de fatores tecnológicos, pedagógicos e aceitação da academia e do público sobre a validade dos MOOCs. O site americano Coursera, por exemplo, afirma ter quatro milhões de alunos registrados, sendo 27% dos EUA e 5% no Brasil (terceiro lugar, atrás da Índia).

Leticia Moreira/ Folhapress
A fisioterapeuta e professora Giana Ramos fez aulas de psicologia da educação e de tecnologia em curso aberto
A fisioterapeuta e professora Giana Ramos fez aulas de psicologia da educação e de tecnologia em curso aberto

MUNDO MUDOU
Os cursos que Ramos fez neste ano são da Unesp Aberta, projeto da universidade estadual paulista que conta com 72 cursos de diversas áreas e já visto por mais de 33 mil alunos. Klaus Schlünzen Júnior, coordenador do NEaD (Núcleo de Educação a Distância da Unesp), defende a opção dos cursos on-line abertos como uma resposta às condições atuais das pessoas.

"O contexto do mundo mudou, as pessoas têm limitação de tempo, dificuldades de locomoção e mais exigências no mercado de trabalho. Os MOOCs vieram atender isso e a universidade pode colaborar com seu conhecimento", comenta.

O site tem a meta de disponibilizar todo o material utilizado e produzido pelos professores, divido em áreas do conhecimento e práticas específicas. Júnior diz já receber demanda por cursos com certificados e no segundo semestre serão criados os primeiros, como direito administrativo e educação inclusiva. O grande complicador para ele é o custo, pois serão necessárias a criação de tecnologias de avaliação e tutoria on-line, videoconferência e questionários.

Na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) a plataforma e-Unicamp já teve cerca de 12 mil alunos em 36 vídeos. Segundo José Armando Valente, pesquisador do Nied (Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Unicamp), há projetos de legendar as aulas na internet em espanhol e inglês para atingir um público ainda maior. Neste ano, também foi criado o portal OpenCourseWare Unicamp, inspirado no projeto do Massachusetts Institute of Technology OpenCourseWare (MIT OCW), desenvolvido para download dos materiais utilizados em quase todas as disciplinas de graduação e pós-graduação oferecidas pelo MIT. A versão da Unicamp já tem 26 cursos, mas sem previsão de certificações.

Já a USP (Universidade de São Paulo) aproveitou o material produzido em seus cursos semipresenciais para criar o portal e-Aulas. São cerca de 780 aulas reaproveitadas e mais 300 produzidas especialmente para o projeto. A plataforma é aberta ao público em geral. Existe, porém, a possibilidade de que alguns vídeos fiquem disponíveis apenas para algumas turmas, caso o professor da disciplina solicite.

CERTIFICAÇÃO INICIANDO
Por enquanto, o MOOC brasileiro que já oferece certificações é a start-up (empresa iniciante de base tecnológica) Veduca e a FGV Online (permite impressão de certificado de participação). Em junho, a Veduca criou parcerias com as universidades USP e UnB (Universidade de Brasília) e três cursos emitirão certificados assinados pelos professores das instituições: física básica, probabilidade e estatística e biotecnologia.

O presidente-executivo da companhia, Carlos Souza, explica que esses cursos têm videoaulas divididas entre cinco e dez partes com séries de perguntas e respostas em cada. Os alunos com melhores notas nesses questionários poderão fazer um prova presencial ao final do curso. "É uma forma de garantir que o aluno realmente se esforçou, viu as aulas e teve um bom desempenho, já que a prova presencial será a mesma que os alunos das universidades fazem", explica.

As aulas já tiveram cerca de 14 mil inscritos, como a estudante de engenharia civil e assistente administrativa Tamise de Oliveira Prado, 19, inscrita no curso de física básica. Mesmo apenas iniciando sua carreira ela afirma que viu nos cursos uma forma de melhorar seus conhecimentos devido a defasagens no ensino médio.

"Venho de escola da rede pública onde tive uma grande defasagem nas aulas de física. Agora que entrei na faculdade tive bastante dificuldade na matéria pois não tive um bom aprendizado no ensino médio. Atualmente, trabalho e estudo e não tenho muito tempo livre, então essa foi a oportunidade ideal, tenho acesso aos conteúdos e autonomia para assisti-los quando melhor me convém."

Souza planeja também lançar no último trimestre cursos mais longos, com mais de uma disciplina, semelhantes ao formato de um MBA e formados por professores de diferentes universidades. "Todo conteúdo será gratuito, mas esses cursos mais longos terão a certificação paga", conta.

Ele explica que as certificações por enquanto no Brasil só podem ser feitas com a acreditação de professores, e não das universidades, porque os MOOCs não estão previstos na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). "A LDB é de 1996 e faz uma divisão abrupta entre as modalidades de ensino presencial e à distância. Nossa realidade de hoje demanda urgentemente currículos que incorporem e incentivem o uso do que cada uma das modalidades oferece de vantagens aos estudantes", critica.

CASOS ESTRANGEIROS
Um dos casos mais bem-sucedidos de MOOCs no mundo é o Coursera, que foi fundado por Daphne Koller e Andrew Ng, dois professores da Universidade Stanford em abril de 2012. Hoje são 399 cursos oferecidos por professores universitários ou de desenvolvimento profissional de 83 instituições como Yale, Universidade de Copenhagen e Universidade de Hong Kong.

Por meio de sua assessoria, a empresa detalhou que é um empreendimento social e vive de investimentos, mas oferece aos estudantes a opção de pagar para terem certificados dos seus cursos (entre US$ 30 e US$ 100). São 69 cursos certificados, validados por provas que só podem ser acessadas com códigos de usuários e em sites exclusivos para cada aluno.

Outra opção é o Udacity, com 1,5 milhão de matrículas em 25 cursos. Clarissa Shen, vice-presidente de estratégia de negócios e marketing, explica que os certificados podem ser baixados quando os alunos terminam os cursos com notas altas e as provas são presenciais em parceria com a escola de testes Pearson (tem unidades no Brasil). As provas têm preços sob consulta.

Para ter mais aceitação no mercado de trabalho a empresa busca também parcerias não apenas com com universidades como San Jose State University e Georgia Tech. "Temos mais parceiros da indústria do que parceiros em escolas, tais como Google, Microsoft, Cadence, NVIDIA, AT & T e outros, para melhorar nossa qualidade", diz Shen.

PÉ ATRÁS
Pela fato dos MOOCs serem récem-nascidos como uma forma de ensino profissional o mercado de trabalho ainda tem muitas restrições sobre sua efetividade. É o que dizem grandes consultorias de recrutamento especializado como a Hays e a Michael Page.

Juliano Ballarotti, diretor da HAYS em São Paulo, afirma que todas as empresas ainda têm restrições em relação ao EAD (ensino a distância) e muito mais em relação aos MOOCs porque aparentam ter um rigor menor do que cursos presenciais como as pós-graduações.

"Apesar de cursar um MOOC indicar um profissional que deseja melhorar sua qualificação essa forma de ensino ainda é recente demais. É preciso ocorrer o mesmo que aconteceu com os bons cursos de EAD, ou seja, aparecem profissionais diferenciados que cursaram os MOOCs, assim o curso ganha legitimidade e importância. Também será essencial que os MOOCs tenham provas muito duras de avaliação dos alunos."

Outros fatores levados em conta pelos empregadores são o tipo de conhecimento demandado e se ele é realmente colocado em prática. Marcelo Cuellar, gerente da consultoria Michael Page, diz que o que será avaliado realmente é se o curso mostra resultados, como ganhos de produtividade.

"O curso é só o primeiro chamariz, não garante emprego ou promoção. Também é avaliado se o curso permitiu algum tipo de interação com professores e alunos, pois isso também cria gestores."

Ele sustenta que os MOOCs teriam mais validade para funções muito técnicas ou com padrão fixo, como conhecimentos de matemática financeira. "Já funções ou conhecimentos mais complexos, que dependem de inúmeros fatores, como gestão e cultura organizacional, um curso presencial mais longo ainda tem mais peso."

 

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