Com economia fraca, trocas de chefes nas empresas caem 54%
FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO
Pela primeira vez em 15 anos, a taxa de rotatividade entre presidentes-executivos no Brasil ficou abaixo da média mundial, de acordo com pesquisa da consultoria Strategy&. O percentual de executivos que trocaram de empresa caiu de 21,8% em 2013 para 10% em 2014.
Já a taxa global permaneceu estável no período, de 14,2% para 14,3%.
"Em momentos de crise, a tendência é de redução do número de trocas", diz Carlos Gondim, da Strategy&. Em razão da turbulência política e econômica, o Brasil viveu um período de incerteza, o que teria feito as empresas evitar grandes mudanças.
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O temor é justificado: de acordo com a pesquisa, empresas que passaram por transições forçadas de chefia perderam US$ 112 bilhões em valor para seus investidores.
Em contrapartida, ele espera que, com o arrefecimento da crise, as trocas que ficaram congeladas no último ano sejam realizadas, fazendo com que a taxa volte a ficar acima da média mundial.
A alta rotatividade no país segue o padrão do que acontece em outros mercados emergentes. "São economias muito dinâmicas, em que o perfil do consumidor muda, precisa de uma nova linha de atuação", afirma.
Já para Adriana Cambiaghi, da empresa de recrutamento Robert Half, a estabilidade de 2014 reflete a decisão das companhias de "arrumar a casa" depois de bons resultados em 2011 e 2012. Segundo ela, a crise pesa, mas é preciso parar de "culpar a economia por tudo".
Na visão de Fernando Moller, presidente da Bic no Brasil, a redução na rotatividade resulta também de uma postura de precaução dos próprios profissionais de chefia, menos tentados a se arriscarem em novas posições.
Ele afirma que a alta rotatividade que caracteriza o Brasil está ligada a um perfil de empresa com visão de curto prazo, que exige resultados rápidos, diferente da Bic, por exemplo, "uma empresa familiar muito tradicional, conservadora", o que justifica sua trajetória de 20 anos na companhia -há dois como "general manager" do grupo no país.
DA CASA
O estudo da Strategy& apontou uma queda no número de presidentes-executivos promovidos do quadro interno da empresa, em favor de profissionais trazidos de fora. Entre 2013 e 2014, o percentual de novas chefias "da casa" caiu de 70% para 56%.
Para Cambiaghi, da Robert Half, as empresas brasileiras preferem evitar disputas internas, e por isso trazem profissionais de fora.
"O brasileiro é muito mais emocional que o europeu e o americano. Quando o brasileiro disputa a mesma posição com um par, pode haver algum tipo de comprometimento na qualidade do trabalho, porque um ganhou e o outro perdeu."
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