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05/05/2013 - 01h11

Empresas levam tecnologia a pequeno consultório médico

REINALDO CHAVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Garranchos em receitas, prontuários escritos à mão e a necessidade de ir ao médico para mostrar resultados de exames simples. Empresas estão trabalhando para que isso acabe no Brasil, ao menos em pequenas clínicas e consultórios.

É o caso da iClinic, empresa de cinco funcionários criada em 2010 em Ribeirão Preto (interior de São Paulo) por estudantes de informática biomédica pela USP. Eles criaram um software que funciona em "cloud computing" (computação em nuvem) para médicos e profissionais de saúde gerenciarem clínicas e consultórios.

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Felipe Lourenço, 25, um dos sócios-fundadores do iClinic, conta que durante a faculdade fez estágio no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. "Foi aí que tive contato com vários profissionais de saúde e percebi a oportunidade", lembra.

A imensa quantidade de estabelecimentos de saúde que ainda controlam seus pacientes e processos no papel chamou a atenção de Lourenço. Sua empresa criou então um sistema para pequenas e médias empresas que permite controle de agendamento, registro do prontuário eletrônico do paciente e prescrições. Os prontuários também podem ser customizados pelo profissional de saúde. Um módulo de faturamento deve ser lançado este ano.

Eduardo Knapp/Folhapress
Carlos Eli Ribeiro ao lado do filho Caio Ribeiro, criadores do programa de Euprescrevo
Carlos Eli Ribeiro ao lado do filho Caio Ribeiro, criadores do programa de Euprescrevo

A ferramenta custa R$ 79,90 e ele não revela a quantidade de clientes. Neste ano a companhia foi selecionada para participar da aceleradora de negócios holandesa Rockstart. A participação inclui um investimento de 60 mil euros (R$ 158 mil) e apoio de mentores. Há planos de buscar internacionalização no futuro.

CRIAR ACEITAÇÃO
O CNS (Conselho Nacional de Saúde) estima que o setor de saúde movimenta no Brasil um total de 9% do PIB (R$ 396 bilhões). Equipamentos, medicamentos e profissionais especializados explicam esse valor tão elevado. E os doentes crônicos costumam ter os maiores gastos.

Foi para atender esse público que o médico Luiz Tizatto, 30, criou a Unit Care Saúde. Em 2011, após fazer pesquisas de mercado em outros países, ele fez um plano de negócios para atender pacientes crônicos que preferem ou podem fazer o "home care" (tratamento no lar).

O grande problema que ele tinha que resolver era o custo: pessoas como hipertensos ou diabéticos podem precisar de avaliações constantes que dependendo do paciente ultrapassam R$ 8 mil ao mês. A maneira encontrada de diminuir esses custos foi usando aparelhos que acompanham remotamente os sinais dos pacientes.

Com um auxílio de um fundo de participações, Tizatto desenvolveu dispositivos que medem pressão arterial, nível de glicemia, peso, oxigênio no sangue, capacidade respiratória, batimentos cardíacos e quantidade passos. O paciente coloca os aparelhos no corpo numa hora indicada e recebe por bluetooth os resultados em um tablet. Uma central de monitoramento também acompanha os dados e recebe os resultados por sinais de 3G para acionar médicos e ambulâncias em casos de emergências.

O custo do serviço varia de R$ 300 a R$ 500 mensais e a companhia já tem 140 pacientes monitorados, com um faturamento de R$ 3,5 milhões no ano passado. Mas além da tecnologia Tizatto considera que outro desafio essencial do seu setor é vencer a resistência de pacientes e até de alguns médicos em usar a tecnologia para os tratamentos.

"Os pacientes levam em média 11 dias para serem fidelizados, acreditarem totalmente nos aparelhos e sistema. Preciso treinar nossos funcionários e enfermeiros para esse trabalho educativo, eles precisam ensinar com calma cada paciente ou familiar, só assim o tratamento é realmente eficaz. A tecnologia é só um meio", diz.

Tizatto também faz parte do grupo que vai representar no Brasil a Continua Health Alliance, uma associação mundial sem fins lucrativos formada por empresas de saúde e tecnologia que cria protocolos e metodologias para padronização de dispositivos e sistemas de medicina. Com isso produtos e serviços de diversas marcas podem se conectar. O lançamento no país será no dia 21 de maio na feira Hospitalar.

MENOS GARRANCHOS
Uma outra oportunidade para as start-ups é oferecer serviços que ajudem a diminuir falhas nos processos. A prescrição de receitas médicas, muitas vezes feita com letras ilegíveis ou exposta a riscos de falsificação, é foco de ação para algumas empresas como a Sollis.

A companhia, que é incubada do Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia), criou o programa Euprescrevo para digitalizar receitas médicas e automatizar controles de farmácias e planos de saúde.

Pai e filho, Carlos Eli Ribeiro, 54, e Caio Ribeiro, 27, criaram a ferramenta gratuitamente, ou seja, qualquer médico pode se cadastrar no site da empresa e usar o programa, que funciona "na nuvem".

"O médico digita a receita no seu computador ou smartphone, imprime, assina e entrega ao paciente. O sistema administra automaticamente os medicamentos controlados e faz um banco de dados daquele paciente. É uma mudança cultural gradativa, mas benéfica para o médico e paciente", comenta Carlos Ribeiro.

A ferramenta foi lançada em março e cerca de cem médicos já a usam. Mas são outros recursos que trazem receita para a empresa. Carlos Ribeiro tem experiência profissional anterior com o desenvolvimento de sistemas que informatizaram cerca de 15 mil farmácias na década passada. Seu programa atual de prescrição digital de receitas agora pode se integrar com farmácias.

Ze Carlos Barretta/Folhapress
Luiz Tizatto, medico e empresario, criou o Unit Care
Luiz Tizatto, medico e empresario, criou o Unit Care

Esse serviço, que é pago e varia de acordo com o porte do cliente, permite que o paciente dispense o uso do papel - fornecendo o número do cartão nacional de saúde ou do plano de saúde o farmacêutico pode acessar automaticamente a receita em um terminal de computador. "O médico e a drogaria só precisam ter uma certificação digital para segurança. Depois, o controle administrativo, logístico e de psicotrópicos e antibióticos fica automatizado. Isso reduz o custo operacional e libera o farmacêutico para atenção ao paciente", explica.

O último recurso que o programa oferece é para operadoras de planos de saúde. Ao ser acessada na farmácia a receita digital pode gerar relatórios para as empresas de saúde suplementar. Isso ajuda elas a terem um acompanhamento on-line da requisição de medicamentos por parte de seus clientes e também promoverem auditorias e análises econômicas.

SEM DORES
Outra falha comum, e séria, do setor da saúde estimulou a criação de uma empresa em Florianópolis. A Anestech foi criada por uma equipe de anestesistas e programadores para tornar mais precisos os procedimentos anestésicos.

Seu sócio-diretor, Diogenes de Oliveira Silva, 38, conta que foram desenvolvidos cinco aplicativos "em nuvem" para auxiliar o anestesista na tomada de decisão na mesa cirúrgica.

"Essas são decisões têm ser tomadas rapidamente e em muitos locais ainda são feitas com o uso de cálculos feitos à mão em papel. É muito importante melhorar isto porque todo mundo tem medo da anestesia, de acordar durante ou não acordar depois."

Os programas usam modelos de cálculo baseados na literatura médica sobre anestesia e matemática. Com isso, por exemplo, é possível calcular as doses, a velocidade da infusão, simular o comportamento da droga no corpo e administrar melhor como o paciente vai recuperar a consciência. As projeções são feitas baseadas nas características do paciente. No final há um registro digital da anestesia que fica arquivado. Todo o acesso pode ser feito em smartphones e tablets.

No momento quatro aplicativos são gratuitos, patrocinados por laboratórios, e um cobra um assinatura mensal de R$ 49,90. Os programas já têm 32 mil usuários e Silva planeja vender também os serviços para grandes hospitais.

DESORGANIZAÇÃO
O oficial médico do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e representante na América Latina da Health 2.0, multinacional que organiza conferências de investimentos em tecnologia e saúde, Vitor Asseituno, comenta que a desorganização das informações e sistemas de saúde nacionais favorecem o aparecimento das start-ups de saúde.

"No Brasil você vai no médico, conta seus sintomas e é atendido sempre como se fosse a primeira vez na vida. Não há base de dados confiável, o que seria muito útil para prevenção de doenças, golpes e redução de custos."

Para ele, essa situação leva várias instituições e profissionais de saúde demorarem para tomar decisões ou terem que refazer processos, como um exame médico.

Uma pesquisa feita no meio do ano passado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) a pedido da Health 2.0 identificou 400 start-ups do setor tecnologia e saúde no Brasil.

O diretor da APM (Associação Paulista de Medicina), José Luis Bonamigo, considera que a incorporação da tecnologia na saúde é irreversível, mas aponta perigos.

"Existem os ônus da possível quebra de privacidade e das informações em excesso. Ou, pior, de dados errados ou desatualizados."

Para Bonamigo, essa foi uma das razões de os serviços para marcar consultas pela web não terem se popularizado no país.

"Existiam muito sites que não checavam as informações que divulgavam. Isso causou receio na classe médica e nos pacientes", diz.

 

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