Com São Paulo tomada, aplicativos de táxi correm para ganhar o Brasil
PAULA REVERBEL
DE SÃO PAULO
O empresário germano-suíço Clemens Raemy, 30, diz que chegou a saltar de um táxi pela janela quando, contrariado, era levado a um local afastado e escuro.
O episódio aconteceu em Buenos Aires, durante um mochilão pela América Latina, em 2009. "Vários taxistas tentavam tirar vantagem, davam voltas ou substituíam o troco por notas falsas."
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Empresa de Tallis Gomes, 26, tem 7.300 carros cadastrados |
Da experiência negativa veio a ideia de criar a empresa SaferTaxi. Por meio de um aplicativo de celular, o usuário pode chamar um carro que está próximo e escolher o motorista com base em qualificações e resenhas. A fonte de receita da companhia é uma taxa de R$ 2 cobrada dos profissionais por cada corrida.
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O negócio, lançado há um ano, tem hoje 2.500 táxis em São Paulo, Buenos Aires e Santiago do Chile e recebeu mais de R$ 8 milhões de investimento dos fundos Draper Associates, Kaszek Ventures e Otto Capital.
Editoria de Arte/Folhapress |
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A SaferTaxi é apenas um exemplo da onda de apps desse gênero que se popularizou em São Paulo: Easy Taxi, Taxijá, 99Taxis, ResolveAÍ e Táxi Aqui estão entre seus rivais na cidade.
O problema é que a concorrência aumentou muito e em pouco tempo. "É muito comum que os taxistas tenham mais apps instalados além do nosso", conta Paulo Veras, 40, presidente-executivo da 99Taxis, que tem o maior número de carros cadastrados em São Paulo (4.000).
Grande parte desses negócios foi montada às pressas. "Nós tivemos de desenvolver um protótipo em três dias para participar de uma competição de start-ups [empresas iniciantes]", diz Tallis Gomes, 26, presidente-executivo da Easy Taxi, lançada em 2011.
Até mesmo o modelo de negócios foi definido com urgência. Sem saber quanto cobrar pelo uso do sistema, Gomes conta ter visto que motoristas davam R$ 2 a homens que direcionavam clientes para eles na rua e decidiu fazer algo similar, pelo mesmo valor. "Foi assim que eu precifiquei o serviço."
Com a forte concorrência, a estratégia é levar o serviço a mais cidades rapidamente. A Easy Taxi, que recebeu investimento de R$ 10 milhões do fundo Rocket Internet, já opera em nove capitais brasileiras e em outros oito países. No total, a empresa tem 7.300 carros cadastrados e 420 mil usuários ativos.
Estreias em Manaus, Cuiabá, Natal e Curitiba, as cidades da Copa do Mundo que faltam no portfólio, estão previstas para o mês que vem.
Retardatários
Quem não teve essa agilidade hoje tem dificuldades. O americano John Drinane, 29, fundador da Táxi Aqui, admite que se atrasou ao iniciar as operações e procurar investimento -a ideia do negócio surgiu em junho de 2011, mas a estreia só aconteceu em maio do ano passado.
"Acho que perdemos o 'timing', a janela de oportunidade", afirma Drinane, que tem uma frota de pouco mais de mil veículos cadastrados.
Em vez de cobrar taxas dos profissionais, a companhia opta por obter receita com publicidade no sistema.
"Não descartamos a possibilidade de cobrar uma comissão. Mas gostaríamos de evitar isso, já que são pessoas que trabalham duro e que não têm dinheiro sobrando."
Por enquanto, esses são os dois principais modelos usados por essas empresas para gerar receita -cobrança de uma taxa dos motoristas ou publicidade.
Para atrair usuários e taxistas, as start-ups oferecem "mimos". A SaferTaxi subsidia smartphones e internet 3G para os motoristas.
A conexão também está disponível para passageiros: o app transforma o celular em um ponto de acesso à rede por wi-fi.
Já a carioca ResolveAÍ mantém parcerias com cooperativas de táxis, o que faz com que ela tenha a maior frota do país, com mais de 10 mil carros em 22 cidades -esse tipo de informação é fornecida pelas próprias empresas: não há um órgão regulador que comprove ou ateste esses números.
"O pedido é feito diretamente ao taxista, sem passar pela central", diz um dos fundadores da start-up, Gabriel Luiz Silva, 30.
Além das empresas iniciantes, há grandes companhias envolvidas nesse segmento. A Scala IT Solutions, que está há mais de 20 anos no setor de tecnologia, é sócia da Mobinov na criação da Taxijá, lançada em setembro, com investimento de R$ 3 milhões.
Hoje, o serviço concentra 2.200 carros em São Paulo e em Curitiba. Até julho, deve chegar a mais sete cidades. "A concorrência não é pequena", diz Arthur Pelanda, 32, um dos fundadores, ao justificar o crescimento.
Além da expansão geográfica e de usuários, as empresas também estão trabalhando no aumento de funcionalidades, a fim de permitir que o pagamento seja feito diretamente pelos apps.
A ideia é que o usuário cadastre seus cartões de crédito e débito no sistema, para que não seja necessário passá-los em uma máquina para efetuar a transação.
Avener Prado/Folhapress |
Fernando Freitas, da GoJames, dentro de carro de luxo em São Paulo |
"Estamos fazendo testes para implementar essa opção", diz Raemy, da SaferTaxi. "Como o sinal de internet móvel não é muito bom no Brasil, temos de nos certificar de que a transação não será computada várias vezes."
A GoJames, de chofer on-line, já se apropriou dessa tecnologia. Nesse caso, a preocupação foi mais forte por se tratar de um serviço premium: com carros de luxo, a conta sai mais cara. O trajeto da avenida Paulista até o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, pode chegar a R$ 450 se for solicitado um veículo blindado.
"Executivos que usam o aplicativo confiam sua família ao nosso sistema", diz o presidente-executivo Fernando Freitas, 27. "Eles chamam carros para levar a mulher ao cabeleireiro ou a filha à faculdade."
Karime Xavier/Folhapress |
Empresa de Arthur Pelanda usa estrutura de companhia de TI |
Na 99Taxis, o desenvolvimento da tecnologia é essencial para o faturamento da companhia, que tem sobrevivido apenas com investimento dos próprios sócios.
A start-up só vai cobrar taxas de taxistas por corridas pagas com cartão. "A nossa estratégia é ajudar a levar esse tipo de transação para o para o meio digital", diz Veras, sócio da empresa.
O serviço já permite que, ao fazer o chamado, o usuário escolha qual será o método de pagamento -os carros com sistema de cartão são mais requisitados.
Os aplicativos de táxi trazem outras vantagens ao usuário, como a possibilidade de recuperar objetos deixados no carro e a segurança de que o motorista é registrado. "Ao aderir, o taxista tem que estar licenciado e o veículo, preservado", explica Gomes, da Easy Taxy. Os concorrentes do setor adotam o mesmo critério.
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