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15/09/2013 - 03h00

Investimento para expansão de empresas fica mais difícil

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

Empresas iniciantes de base tecnológica, as start-ups, estão tendo mais dificuldades para conseguir uma segunda rodada de investimento, nesse mercado chamadas de "series A", que no Brasil giram em torno de R$ 2 milhões.

Isso limita o crescimento de negócios promissores que haviam recebido aportes iniciais menores.

Americano vira bilionário fazendo cerveja artesanal
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Os gestores de fundos de investimento de risco apontam o segundo semestre do ano passado como o auge do dinheiro nessa rodada.

"Com os EUA melhorando, o dinheiro americano fica lá", afirma Paulo Humberg, da A5 investimentos.

Clovis Meurer, 63, presidente da Abvcap (associação brasileira de capital de risco), aponta motivos macroeconômicos brasileiros para explicar esse momento mais "seco" dos investimentos, como crescimento pequeno do PIB, dólar e inflação em alta.

"Uma pessoa física vê isso e decide postergar um curso, um investidor também considera esses riscos e o retorno sobre capital investido", diz.

Apu Gomes/Folhapress
Mate Pencz, fundador da Printi, conversou com 50 investidores até conseguir financiamento
Mate Pencz, fundador da Printi, conversou com 50 investidores até conseguir financiamento

Mate Pencz, 27, fundador da Printi, conseguiu investimento, mas só depois de conversar com mais de 50 grupos até achar quem colocasse dinheiro no negócio dele, uma uma gráfica que aceita pedidos via internet. Foram R$ 2,5 milhões.

"Foram vários 'nãos', mas é preciso se dar conta que não é algo pessoal. É um pouco frustrante, mas foi um caminho que tivemos que aprender. Faz parte, são muitas variáveis nesse jogo."

Cassio Spina, da associação Anjos do Brasil, dá uma dica às start-ups: "Não vá atrás de fundos de capital de risco quando a empresa ainda está muito crua. Eles já querem resultados palpáveis, como faturamento. E não dá para procurar esse investimento se você teve só um mês bom. É preciso mostrar uma trajetória mais longa".

FALTA UM SUCESSO

Haroldo Korte, 49, diretor do fundo Atomico, aponta uma outra razão para esse estrangulamento. Segundo ele, ainda não houve nenhuma start-up brasileira que teve uma história muito bem sucedida para depois abrir capital na bolsa.

"Uma oferta inicial de ações ajudaria a retomar investimentos no Brasil", diz.

O problema é que no Brasil, tradicionalmente, só fazem ofertas iniciais de ações empresas já muito grandes.

Isso faz com que o dinheiro para financiar investimentos de empresa pequenas ou médias venha geralmente de empréstimos bancários.

Fabio Braga/Folhapress
Bernardo Pereira é presidente da Senior Solution, uma das menores empresas na Bolsa
Bernardo Pereira é presidente da Senior Solution, uma das menores empresas na Bolsa

"É um problema histórico: as instituições bancárias são fortes e existe uma tradição de pensar em dívida quando se precisa de crédito", diz Rodrigo de Campos Vieira, sócio na área de mercado de capitais do escritório de advocacia TozziniFreire.

Rodolfo Zabisky, coordenador de um grupo chamado PAC PME, de pequenas e médias empresas que se reúnem para discutir como melhorar o ambiente de negócios, afirma que muitos empreendedores "têm problemas com controles".

Isso porque os donos costumam ser os chefes e têm medo de dividir poder com um conselho, por exemplo.

Zabisky continua: "Eles têm aversão de divulgar dados, porque acham que a concorrência vai usar". O grupo fez sugestões para incentivar o acesso de pequenas empresas à Bolsa de Valores. "Queremos que investidor nas pequenas [empresas] tenha isenção de imposto sobre ganhos. Tanto pessoas físicas como fundos."

O grupo não é o único que pensa em formas de aumentar a participação de pequenas e médias empresas na Bolsa. A própria BMF&Bovespa faz parte de uma força-tarefa, com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), BNDESpar e outras entidades. Eles estudaram mercados de acesso, como são chamadas Bolsas para pequenas empresas, de sete países.

Cristiana Pereira, 42, diretora de desenvolvimento da BM&FBovespa, conta que há casos de captação de até mesmo 2 milhões em moeda local em alguns países.

Segundo a diretora da CVM Luciana Dias, as propostas estão em estudo. São 12 ideias, como simplificar o processo para abrir capital e criar regras para fazer oferta restrita de ações.

Eles também sugerem isenção de impostos para investidores -para todos aportes em empresas cujo valor seja menor do que R$ 700 milhões. É diferente da proposta do PAC PME, que sugere isenção só para empresas que vierem a lançar ações no mercado de acesso a ser criado.

Algumas empresas de porte médio já conseguiram quebrar essa barreira, caso da Senior Solution, de softwares para gestão financeira.

Bernardo Gomes, 49, diretor-presidente, conta que eles receberam cerca de R$ 62 milhões em sua abertura de capital, em março. Três meses depois, adquiriram outras empresas.

A empresa de TI Quality já é listada na bolsa, mas ainda não ofertou ações. Essa é uma estratégia que permite esperar um bom momento para buscar acionistas e ficar menos vulnerável.

Grande parte da preparação para conseguir isso já estava encaminhada quando ela virou sócia do BNDESpar: já é auditada, tem conselho e publica balanços, conta o diretor-presidente Júlio Britto Júnior.

Lucas Landau/Folhapress
Britto Junior, presidente da empresa Quality, que espera o melhor momento para ofertar ações na Bolsa
Britto Junior, presidente da empresa Quality, que espera o melhor momento para ofertar ações na Bolsa
 

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