Jovens optam por ofícios com séculos de história
EDUARDO KORMIVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Foi em uma profissão com séculos de história que Eledneia Andrade dos Santos, 26, descobriu um futuro promissor. Seguindo os passos da mãe, a jovem aprendeu tapeçaria há dez anos. Hoje, é chefe de produção de uma empresa do setor em São Paulo e sonha em cursar design.
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Isadora Brant/Folhapress | ||
Eledneia dos Santos, que seguiu os passos da mãe, diz que 'obras de arte' saem de duas mãos |
Ofícios como o de Santos, especialmente os ligados ao mercado de luxo, têm demanda por profissionais. Há vagas para funções como ourives, relojoeiro e sapateiro, mas é difícil é encontrar jovens preparados para exercer essas profissões que, geralmente, são passadas de pai para filho. Também é preciso ser persistente para ter a experiência necessária para receber salários mais altos.
"Para mim, viver desse trabalho é muito gratificante, principalmente quando vejo a quantidade de obras de arte que saem das minhas mãos", diz Eledneia. Ela trabalha na Punto e Filo, onde também recebeu a formação. A empresa, que produz 3.000 metros quadrados de tapetes por mês, oferece remuneração média de R$ 1.090 aos tapeceiros.
Outro setor que não vive apenas do passado é o ramo joalheiro. O carioca Rodrigo Gonçalves Carvalho, 24, é apaixonado pelo ofício de cravador, profissional responsável por fixar as pedras preciosas e fazer entalhes que dão brilho às peças.
"A curiosidade surgiu ao ver meu pai trabalhando em casa", diz Carvalho, que começou a aprender a técnica quando tinha 16 anos. O piso no Rio de Janeiro para a função de cravador é de R$ 900, mas um funcionário experiente pode ganhar de R$ 5.000 a R$ 6.000 ao mês.
Cecilia Acioli/Folhapress | ||
Rodrigo Carvalho trabalha como cravador, ofício que aprendeu com o pai |
A especialização no setor praticamente acabou com a figura do joalheiro, capaz de produzir uma joia do início ao fim. Hoje, cabe ao ourives montar e dar o acabamento a uma peça, como conta Diogo Santos Moraes, 22.
O ofício também foi transmitido em família. Além do pai, que atua há 40 anos na função, um irmão e um tio também trabalham na área. Hoje, diz Moraes, há mais espaço para os jovens na indústria paulista, que concentra metade da produção nacional e paga, em média, de R$ 1.500 a R$ 2.000.
Ele trabalha com o pai na oficina montada em casa em Itaquera, zona leste de São Paulo. Atendem clientes que estão dispostos a pagar até R$ 5.000 por joias que podem exigir duas horas de trabalho, caso de alianças de casamento.
CARÊNCIA DE MODA
A indústria da moda também tem suas carências. Entre os profissionais mais procurados em todo o país está o modelista, que é quem efetivamente dá forma à imaginação do estilista, produzindo o molde que servirá de base para a produção da primeira peça.
Longe dos holofotes e em contraposição ao sucesso dos estilistas, a função de modelista passou por uma fase de baixa oferta. Cursos superiores foram criados na área, mas a disponibilidade de profissionais ainda não cobre a demanda. Com isso, o modelista pode começar a carreira ganhando 24% mais (R$ 1.704,85) do que um estilista. Um profissional sênior pode ganhar R$ 10 mil.
Fernando Jeon, 22, terminou há pouco tempo a faculdade de modelagem. Desde muito cedo sabia que queria trabalhar com moda -- a mãe tinha uma confecção no Brás.
Antes de entrar na faculdade, fez um curso de corte e costura e tomou gosto pela construção de roupas. Já trabalhou com a designer Glória Coelho e atua há sete meses no ateliê do estilista Pedro Lourenço, filho de Gloria e garoto-prodígio da moda brasileira. "Só com o tempo você se aprimora como modelista. Existem mil combinações possíveis", diz ele.
Outro profissional em falta é o relojoeiro. Pablo Cuebas, 32, começou no ofício há 16 anos, depois herdar do tio a fascinação por relógios. Apesar de ouvir muitas vezes que a profissão está em extinção, ele vê muitas oportunidades no segmento, o que envolve modelos de marcas de luxo e restaurações.
Segundo ele, aprender o ofício não é tarefa simples --não existem cursos no país e cada marca tem o seu próprio mecanismo. O piso do relojoeiro é de R$ 993, mas o conserto de um relógio suíço pode custar até R$ 1.600.
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