'Efeito Facebook' faz investidores ficarem mais 'chatos' nos EUA
NICOLE PERLROTH
DO "NEW YORK TIMES"
O fenômeno talvez mereça o nome de efeito Facebook. Até recentemente, os investidores pareciam ávidos por colocar milhões em qualquer empresa iniciante de internet que apresentasse rápido crescimento, mesmo que ela não registrasse lucros e nem planos de tê-los em prazo previsível. Mas, depois da complicada oferta pública inicial de ações do Facebook e da queda nas ações da Zynga e do Groupon, os especialistas em capital de risco estão se tornando mais seletivos.
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"Antes, os empreendedores não precisavam de uma estratégia verdadeira de monetização", diz Brian O'Malley, investidor em empresas iniciantes na Battery Ventures. "Eles podiam postergar indefinidamente a preocupação com faturamento porque os dólares de investimento representavam receita para a companhia. Podiam financiar suas empreitadas com o capital de investimento e não com a obtenção de clientes".
As empresas de comércio eletrônico já não são favorecidas, porque elas enfrentam dificuldades logísticas e requerem muito capital. A celebrada transição para os celulares inteligentes, no passado causadora de uma torrente de investimentos, agora causa nervosismo a alguns investidores porque a monetização de companhias baseadas em aparelhos móveis vem se provando mais difícil.
Jennifer S. Altman/The New York Times | ||
Funcionários da empresa Omgpop, que pertence à Zynga, que criou um aplicativo que permite desenhar no iPad ou em um smartphone |
Os investidores também estão cansados de empresas e aplicativos que dependam inteiramente do Facebook, Twitter e LinkedIn para obter clientes, agora que essas empresas estão mais concentradas em obter lucros para suas operações. E o Vale do Silício está descobrindo que, embora possa ser mais fácil do que nunca criar uma companhia, criar um negócio duradouro se tornou mais difícil.
As companhias estreantes mais novas começam a sentir o aperto. O grupo de pesquisa CB Insights analisou 4.056 investimentos iniciais em empresas de tecnologia realizados nos Estados Unidos desde 2009, e constatou que mais de mil companhias que atraíram capital dos chamados investidores-anjo, que colocam dinheiro pessoal para a ajudar a criar um projeto, se verão órfãs neste ano, com os fundos de capital de risco rejeitando seus pedidos por mais dinheiro. Como resultado, US$ 1 bilhão (R$ 2 bilhões) dos investidores-anjo desaparecerão.
O massacre nem de longe se compara ao estouro da bolha da Internet em 2000, quando US$ 3 bilhões (R$ 6 bilhões) evaporaram na bolsa Nasdaq, mas basta para fazer com que os investidores e empreendedores pensem duas vezes.
SEGUNDO PASSO DIFÍCIL
A CB Insights prevê que as start-ups (empresa iniciante) de internet serão as mais prejudicadas, porque atraíram capital inicial maior do que as companhias de hardware e as de serviços, mas provavelmente terão mais dificuldade para conseguir investimentos adicionais.
Parte do problema é aritmética simples. Os investidores-anjo propiciam pequenas quantias a empresas, em geral em valor inferior a US$ 1,5 milhão (R$ 3 milhões). Mas, para desenvolver um negócio, empresários quase sempre precisam recorrer ao setor de capital de risco, que investe quantias maiores em nome de fundos patrimoniais, fundos de pensão, fundações e outras instituições. E, embora o número de investidores iniciais dispostos a bancar uma companhia tenha crescido, o de companhias ativas de capital de risco se reduziu.
Mas os investidores dizem que esse gargalo não é o único problema. As realidades de construir um negócio duradouro começam a se fazer sentir.
"Jamais foi mais fácil abrir uma empresa, e jamais foi mais difícil fazer com que ela cresça", disse David Lee, executivo de capital para empreendimentos na SV Angel, companhia de investimento de primeiro estágio.
David Sacks, executivo do Vale do Silício que vendeu a Yammer para a Microsoft por US$ 1,2 bilhão no ano passado, resumiu os desafios em uma nota desanimadora sobre o Facebook, em agosto do ano passado.
"Creio que o Vale do Silício tal como o conhecemos está chegando ao fim", escreveu Sacks. "Para criar uma companhia nova e bem sucedida", ele afirmou, os empreendedores precisam descobrir uma ideia que "tenha escapado à atenção das grandes companhias de internet, que hoje têm gestão melhor do que no passado". Para atrair capital adicional, as novas empresas precisam provar sua viabilidade com capital inicial de menos de US$ 5 milhões.
Além disso, precisam ser "passíveis de proteção contra a reação das grandes empresas quando estas descobrirem qual é a ideia", disse Sacks. "Quantas ideias inovadoras restam?"
Os comentários de Sacks causaram debate acirrado no Vale do Silício. Um dos críticos mais veementes de sua posição foi Marc Andreessen, cofundador da Netscape e da Andreessen-Horowitz, uma companhia de capital de risco, que afirmou no Facebook haver oportunidades "incessantes" para start-ups.
Mas as companhias iniciantes estão descobrindo que, embora as oportunidades possam ser incessantes, o capital não é.
"As avaliações de mercado se tornaram exageradas", diz Rich Wong, executivo de capital de risco na Accel Partners. "Antes, as pessoas queriam projeções de resultados para apenas alguns trimestres, mas hoje querem números para um ano ou mais".
LOJAS ON-LINE EM DÚVIDA
Wong afirmou que as companhias de comércio eletrônico, especialmente, estão atraindo mais escrutínio. Investidores que se interessaram quando a Amazon adquiriu a Zappos por US$ 1,2 bilhão e a Oudisi, controladora do Diapers.com, por US$ 540 milhões, investiram milhões de dólares em sites de comércio eletrônico, mas descobriram que é difícil administrá-los.
O Gilt Group, site de liquidações de moda, levantou mais de US$ 220 milhões em capital, mas ainda não saiu do vermelho. Está reduzindo suas operações com submarcas como a Gilt Taste e a Park & Bond, e quer vender o Jetsetter, seu popular site de turismo. O Fab.com, site que oferece descontos diários para produtos de moda, teve de levantar capital com avaliação de mercado inferior à planejada devido aos problemas na abertura de capital do Facebook.
Os investidores também preveem que o Zulily, um site de liquidações para mães, encontrará dificuldades para comprovar que merece sua recente avaliação de mercado de US$ 1 bilhão.
O ShoeDazzle, site de sapatos de Kim Kardashian, levantou US$ 66 milhões, e o Lot18, site de liquidações de vinho, levantou US$ 45 milhões junto a investidores impressionados com o crescimento em seu número de usuários. Ambas as companhias se viram forçadas a demitir pessoal no ano passado.
"O comércio 2.0, ou seja, os sites de liquidações e cupons de descontos diários, me causa ceticismo", diz Peter Fenton, executivo de capital de risco na Benchmark Capital.
Fenton diz que sites de liquidações como o Zulily e o Gilt "requerem investimento intensivo, enfrentam desafios estruturais quanto a margens de lucro e, caso abram seu capital, veem suas ações negociadas com múltiplas baixas. E questiono seriamente sua capacidade de concorrer com um gigante como a Amazon".
TRÁFEGO SOB SUSPEITA
Os investidores também estão céticos quanto aos jogos sociais e aplicativos que dependem de redes sociais como o Facebook, Twitter e LinkedIn. Essas redes sociais representam uma fundação nada sólida para um negócio porque elas mesmas sofrem pressão por monetização.
Por exemplo, o Facebook alterou seu algoritmo de atualização, no final do ano, e isso reduziu o número de usuários que veem as atualizações de status; os anunciantes se queixaram de que isso reduzia à metade o número de exibições de seus anúncios.
O verdadeiro motivo da mudança, dizem os anunciantes, era forçar as empresas a usar o novo recurso de promoção do Facebook, que permite que usuários paguem para que suas atualizações atinjam uma audiência maior.
A BranchOut, uma rede de contatos profissionais que trabalha com dados obtidos do Facebook e LinkedIn, levantou US$ 85 milhões do setor de capital de risco, mas teve de mudar seu modelo de negócios em 2011 depois que o LinkedIn cortou acesso a seus dados.
"Os investidores estão ficando mais espertos quanto às fontes de tráfego", diz O'Malley. "Companhias que dependem pesadamente do Twitter, Facebook ou aparelhos móveis estão enfrentando mais dificuldades".
Os investimentos do setor de capital de risco em companhias do segmento móvel subiram em 75% nos nove primeiros meses de 2012, ante o período no ano anterior, de acordo com a CB Insight, mas os empreendedores enfrentam desafios diferentes nos celulares em relação ao que enfrentavam na web.
"Houve grande exagero sobre a transição para os aparelhos móveis, mas as pessoas começam a perceber os desafios desse setor", ele afirma. Entre os obstáculos, está o fato de que os criadores de aplicativos estão sujeitos aos caprichos da Apple. Também precisam convencer os usuários a baixar seus aplicativos, e a publicidade é mais complicada em uma tela pequena.
Assim, que empresas iniciantes devem sobreviver aos percalços?
"As pessoas estão estudando com mais atenção os indicadores de envolvimento", diz O'Malley. "Que percentagem dos usuários retorna? Quanto eles estão envolvidos? São usuários 'persistentes'"?
Essa dose de realismo pode ser útil. Lee diz que, 18 meses atrás, metade das propostas que ouvia era para companhias sociais, de negócios locais ou do segmento móvel. Hoje ele está vendo ideias mais diversificadas e modelos de negócios mais duradouros e previsíveis.
"Agora, as companhias que têm modelos de negócios previsíveis, ou uma forma de obter envolvimento dos usuários, bem como mercados mundiais, são as que recebem as avaliações mais altas", afirma Lee. Mas, acrescenta, "isso me faz querer investir quantias menores".
Tradução de Paulo Migliacci
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