Calote de clientes faz dentista criar empresa que fatura R$ 1,5 milhão
REINALDO CHAVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando começou a clinicar, em 2002, o dentista Márcio Campos, 37, tinha um problema sério: muitos pacientes eram inadimplentes porque pagavam com cheques sem fundos e, quando usavam dinheiro, não tinham condições de bancar o tratamento de uma vez só e acabavam dando apenas uma parte e sumindo.
O que para muitos seria motivo para jogar a toalha ou só reclamar para ele serviu de inspiração para criar uma empresa que faturou R$ 1,5 milhão em 2012, a PagPop.
Campos, que tinha seu consultório em Ribeirão Preto (interior de São Paulo), diz ter percebido qual é o maior inimigo dos dentistas: o parcelamento do varejo. "Não adianta culpar o paciente ou outro dentista concorrente. O grande problema era que as pessoas não podiam parcelar um tratamento porque consultórios não aceitavam cartão de crédito", diz.
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Cansado dos calotes, ou da "embromalina com tapadozol", como chamava, ele começou a pesquisar uma forma de seus pacientes parcelarem os atendimentos usando o cartão de crédito. Com um plano de negócios embaixo do braço, ele foi pedir apoio com um banco para emitir carnês e receber cartões de crédito. Seu argumento era que um paciente pode arcar com um tratamento odontológico de R$ 1.000 parcelado em dez vezes, mas desiste quando tem de pagar à vista ou em apenas duas vezes.
A resposta foi positiva e Campos abriu uma empresa chamada Vital Cred e começou a oferecer pagamentos por meio de carnês e cartão de crédito utilizando um call center para autorizar as operações. Ele conseguiu mais clientes e passou a vender a proposta para outros dentistas. Em 2008, conseguiu um acordo com a Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas e fechou o ano com 1.200 clínicas usuárias do sistema.
Divulgação | ||
Márcio Campos, fundador da PagPop, empresa de meios de pagamentos |
MUDANÇA PARA CRESCER
Apesar desse cenário promissor, em 2010 tudo mudou de figura: o mercado de cartões quebrou a exclusividade de captura entre as bandeiras Visa e MasterCard e as credenciadoras Cielo e Redecard, respectivamente. Com essa mudança, uma maquininha de cartão passou a aceitar várias bandeiras, o que poderia desestimular as pessoas buscarem o serviço de Campos para ter mais opções de recebimento.
Em vez de pensar em desistir, Campos resolveu parar a odontologia e se dedicar exclusivamente a sua empresa de pagamentos. "Achei que seria pisoteado pela concorrência, então fui me preparar e procurei uma aceleradora de negócios", lembra.
Em 2011, ele conseguiu ser aceito na aceleradora 21212, do Rio de Janeiro, e passou por uma série treinamentos e consultorias para aprimorar seu negócio. Sua intenção era obter ajuda de investidores e aumentar a escala de seu negócio. No começo de 2012, a empresa mudou o nome, para PagPop, e expandiu os serviços para outros tipos de empresas e profissionais.
A estratégia deu certo: em 2011 ele tinha 4.000 clientes e, no final de 2012, chegaram a 24 mil. A empresa também conseguiu receber aportes dos fundos da Intel Capital, Cetus Investimentos, Grupo Maubisa e Grupo Cisneros e atrair profissionais do mercado e formados em instituições como a Universidade Harvard.
Segundo Campos, essa virada foi possível, entre outros motivos, pela aposta em um negócio mais amplo e com proposta de inclusão. "Decidi não brigar contra grandes operadoras, mas aproveitar uma demanda grande que descobri no consultório. Hoje atendemos pessoas como revendedoras da Natura, taxistas e profissionais liberais", diz.
A estrutura da PagPop tem hoje 40 funcionários e faz transações por cartão de crédito pela internet, celular comum, telefone fixo e smartphone.
PREPARAÇÃO ANTERIOR
Até antes de ser dentista, aos 19 anos enquanto ainda era estudante, Campos chegou a ter uma empresa de palestras sobre prevenção contra doenças e uma pequena editora. Por questões de inadimplência, o negócio faliu, mas hoje ele considera que essa foi uma experiência muito importante para o crescimento da PagPop.
"Com essa empresa, eu tive uma experiência de fracasso, vi que erros poderia evitar. E trabalhando como palestrante também peguei gosto por falar em público, algo que foi muito útil depois para negociar os investimentos que recebi", destaca.
Ele abandonou completamente a odontologia, apesar de sentir saudade, mas também diz ter aprendido lições valiosas sobre como vender uma ideia e do dia a dia de um negócio.
Há dois meses, a PagPop foi aceita como integrante da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), para sentar ao lado de tradicionais empresas do setor, o que causou uma situação engraçada. "Perguntaram, brincando, na reunião de associados: 'O que esse dentista está fazendo aqui?'".
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