Líderes têm o desafio de engajar jovem cada vez mais inquieto e conectado
REINALDO CHAVES
ROGÉRIO DE MORAES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O ex-diretor-executivo da Apple, Steve Jobs, ao criar o iPod e o iPad sugeriu que o tradicional botão de ligar e desligar fosse retirado ou reduzido. O guru da tecnologia entendeu que a geração Y não sente mais a necessidade de se desligar de uma atividade para iniciar outra.
Essa compreensão das novas gerações é um desafio para todos os executivos. Os chefes da geração "baby boomer" (que hoje têm mais de 45 anos) e da geração X (os adultos de 30 a 45 anos) têm que lidar com a geração Y (nascidos após 1980), jovens que não mais compartimentam a vida em momentos separados para trabalhar, se divertir ou para ficar com a família --tudo é interligado.
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O papel do líder no mundo dos negócios vem passando por intensa transformação. Hoje, não basta dizer o que e como algo deve ser feito. O chefe também precisa explicar o porquê. E tem de fazer isso de modo convincente.
A presidente da consultoria 5 Years From Now (Daqui a Cinco Anos), Béia de Carvalho, lembra que o verbo que movia as pessoas no século 20 era "obedecer". No século 21, defende a especialista, a palavra de ordem mudou para "engajar".
"O jovem precisa de um desafio, seja ele alcançar um cargo mais alto ou tornar melhor algo em que acredita. Claro que mandar é muito mais fácil que engajar, mas a geração Y não aceita isso", afirma Carvalho.
Para João Baptista Brandão, professor de liderança e de gestão de pessoas na Fundação Getulio Vargas, a chave da nova liderança não está mais apenas na graduação ou na capacidade de gerenciar projetos, mas principalmente no caráter e na postura do líder. "Antes de tudo, é preciso construir vínculos de confiança. Sem confiança, os jovens não se comprometem", explica o especialista.
DESCENTRALIZAÇÃO
O apego à informalidade é outra característica dessa geração. Acostumados com mais liberdade, esses profissionais exigem arquiteturas de trabalho mais abertas. A descentralização faz parte das mudanças pelas quais as empresas estão passando. Com isso, o trabalho tende a se tornar mais participativo e menos hierarquizado.
Segundo Fernando Goes, sócio da consultoria Havik, essa maior abertura nas decisões tem sido um desafio para os líderes, especialmente para os conservadores, que não acompanham as transformações comportamentais que as novas gerações estão trazendo para as companhias.
"O conflito de gerações dentro das empresas já está entre os temas mais discutidos no mundo atualmente", afirma ele.
NÃO LINEAR
O conceito de carreira para as gerações de meados do século 20 sempre esteve ligado à valorização da hierarquia e à construção, "tijolo por tijolo", de uma trajetória. Carvalho explica que a geração Y tem uma relação não linear com a carreira.
"Ao mesmo tempo eles trabalham, leem, escutam música, veem um vídeo e marcam uma balada. Os jovens entendem a carreira da mesma forma, acham que ela não precisa ter uma ordem fixa. É muito comum perguntarem 'como eu faço para ser gerente?' logo no começo de um trabalho."
Segundo ela, o problema é que a maioria dos líderes não sabe responder a essa pergunta, ou pior, fica irritada com o questionamento. "Mas isso é na verdade uma grande oportunidade para engajar e reter o jovem", diz.
Carvalho também destaca que estudos demográficos no Brasil mostram que a geração Y representa aproximadamente 47% da mão de obra e diz que essa é mais uma razão para entendê-los.
Outro fator importante é que a inovação nas empresas precisa dos jovens. "Muitos gestores de RH procuram profissionais inovadores, porém, só aceitam métodos de trabalho de décadas atrás. Isso é um contrassenso. No mundo complexo e interligado de hoje, precisamos das ideias dos jovens", finaliza.
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