Cursos de universidades de elite via internet crescem, mas demoram a dar lucro
TAMAR LEWIN
DO "NEW YORK TIMES"
Em agosto, quatro meses depois de Daphne Koller e Andrew Ng lançarem a empresa de educação on-line Coursera, seus cursos universitários gratuitos já tinham atraído 1 milhão de usuários, numa implantação mais veloz que a do Facebook e do Twitter.
Os cofundadores, professores de ciência da computação na Universidade Stanford, perto daqui, assistiram com espanto à matrícula de número 2 milhões, em dezembro, com 70 mil novos alunos por semana em mais de 200 cursos, incluindo "Interação Humanos-Computadores", "Composição de Canções" e "Gamificação", lecionados pelos corpos docentes de 33 universidades de elite que são parceiras da empresa.
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Em menos de um ano, a Coursera havia obtido US$ 22 milhões em capital investidor e criara tanto burburinho que algumas universidades se colocaram um pouco na defensiva por não fazerem o mesmo.
Muitas universidades americanas estão ampliando sua oferta de serviços pela internet, na esperança de atrair alunos do mundo todo. Novos empreendimentos como o Udemy ajudam professores a colocarem seus cursos na rede. A Universidade Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) forneceram US$ 30 milhões cada para criar a edX. Outra cria de Stanford, o Udacity, já atraiu mais de 1 milhão de alunos com seus cursos abertos, junto com um financiamento de US$ 15 milhões.
Tudo isso poderá contribuir para o futuro do ensino superior - desde que alguém descubra como fazer para ganhar dinheiro.
A Coursera despontou como líder, empenhando-se em bancar seu negócio com a criação de fluxos de faturamento por meio de licenciamentos, taxas para a emissão de certificados e fornecimento de informações a empresas que recrutam profissionais, entre outras iniciativas. Mas não há garantia de que ela manterá sua posição no crescente mercado da tecnologia educacional.
"Ninguém achou até agora o modelo que irá funcionar", disse James Grimmelmann, professor da Escola de Direito de Nova York e especialista em direito informático e da internet. "Minha previsão é de que todos os atuais empreendimentos fracassarão, porque as expectativas são elevadas demais. As pessoas acham que uma coisa vai pegar feito fogo no mato. Mas o mais provável é que talvez só uma década depois alguém irá perceber como fazer isso e ganhar dinheiro."
Koller e Ng proclamam o desejo de manter os cursos gratuitamente disponíveis para alunos pobres do mundo todo. A educação, dizem eles repetidamente, deve ser um direito, não um privilégio. E até os investidores do projeto dizem que os lucros podem esperar.
"A monetarização não é o objetivo mais importante para esse negócio a esta altura", disse Scott Sandell, financiador da Coursera e sócio majoritário da New Enterprise Associates. "O importante é que a Coursera está rapidamente acumulando um conteúdo de alta qualidade, que pode vir a ser muito atraente para universidades que o desejem licenciar para uso próprio."
Mas, agora que o faturamento começa a pingar, os parceiros universitários da Coursera esperam em breve começar a receber alguma coisa.
"Vamos ganhar dinheiro quando a Coursera ganhar dinheiro", disse Peter Lange, reitor da Universidade Duke, na Carolina do Norte, que é parceira da Coursera. "Não acho que isso vá demorar muito. Não queremos cometer o mesmo erro que o setor dos jornais cometeu, distribuindo nosso produto gratuitamente on-line por muito tempo."
Atualmente, a fonte de faturamento mais promissora para a Coursera é o pagamento de taxas de licenciamento por parte de outras instituições de ensino que desejem usar as aulas da Coursera, seja como um curso pronto, ou como palestras em vídeo que os alunos possam assistir antes de trabalharem com o corpo docente em sala de aula.
Koller planeja cobrar US$ 20, ou talvez US$ 50, por certificados de conclusão. E a empresa dela, como a Udacity, já começou a cobrar para que empregadores corporativos, inclusive Facebook e Twitter, tenham acesso a alunos destacados.
No contrato com a Coursera, a empresa fica com a maior parte do faturamento; as universidades retêm 6% a 15% do faturamento, e 20% do lucro bruto. Outras possibilidades incluem a cobrança de uma taxa de assinatura, após o término das aulas, para manter o fórum de discussões como uma comunidade da web, ou talvez a oferta de cursos complementares, também pagos. A abertura para patrocinadores continua sendo uma hipótese.
Alguns parceiros da Coursera dizem não ter pressa para ver a cor do dinheiro.
Os cofundadores da Coursera se tornaram oráculos do ensino superior, difundindo sua mensagem dos cursos abertos no Fórum Econômico Mundial, em Abu Dhabi, na Cúpula da Web, em Dublin, e no Festival de Ideias de Aspen, no Colorado.
Eles descrevem como os cursos gratuitos pela internet podem oferecer acesso ao ensino superior para qualquer um que tiver uma conexão com a internet; como eles liberam os professores de repetirem as mesmas palestras surradas, semestre após semestre; e como geram dados, já que os computadores captam todas as respostas, certas ou erradas, que possam oferecer uma nova compreensão a respeito de como os alunos aprendem melhor.
Mas Koller está insegura acerca do futuro das aulas abertas - e da sua própria empresa. "Há um ano, eu não poderia imaginar que estaríamos onde estamos agora", disse ela. "Quem sabem onde estaremos daqui a mais cinco anos?"
Tradução de RODRIGO LEITE
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