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27/01/2013 - 05h12

Parceria entre universidade e mercado gera pesquisa de ponta

EDUARDO KORMIVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Enquanto neste momento governo, Congresso e Justiça se debruçam sobre a polêmica distribuição dos royalties do pré-sal, a milhares de quilômetros de Brasília uma parceria entre uma universidade e uma petrolífera se concentra no desenvolvimento da tecnologia necessária para viabilizar a exploração comercial do petróleo em águas ultraprofundas.

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A interação entre a Coppe/UFRJ e a Petrobras não é nova, mas enfrenta agora um momento especialmente fértil em virtude dos desafios da nova fronteira petrolífera. Iniciada em 1977, a parceria gerou mais de 3.000 projetos conjuntos e levou ao desenvolvimento da tecnologia de exploração de petróleo e gás offshore (em alto mar) que tornou a instituição uma referência mundial. A Coppe ainda foi responsável pela formação de mais da metade dos técnicos do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes).

Fernanda Frazão/Folhapress
Eduardo Aoun Tannuri, professor da Poli/USP, que faz pesquisa em parceria com a Petrobras
Eduardo Aoun Tannuri, professor da Poli/USP, que faz pesquisa em parceria com a Petrobras

Instada pelos desafios tecnológicos do pré-sal, a universidade constrói um parque tecnológico na parte sul da Cidade Universitária, na Ilha do Fundão. Ali, mais de dez centros de pesquisa estão sendo implantados por gigantes do setor, como Halliburton, Siemens, FMC Technologies, BG Group e GE. São investimentos que devem chegar à casa do R$ 1 bilhão e gerar 5.000 empregos (hoje trabalham 1.200 pessoas no parque).

A relação entre academia e indústria é de mão dupla. Para a universidade, as novas receitas turbinam bolsas de pesquisa e permitem arcar com os custos de laboratórios e equipamentos de ponta.

Por contrato, cada empresa de grande porte instalada no parque terá de investir ao menos R$ 3 milhões anuais durante os primeiros cinco anos em projetos de pesquisa e cooperação com a UFRJ. Para pequenas e médias, a exigência é de 3% do faturamento. Além disso, os novos centros de pesquisa geram uma demanda por especialistas altamente qualificados.

Apenas a GE contratará 300 funcionários, a maioria doutores. "Quem pensa em ser pesquisador não precisa mais estar preso necessariamente à universidade. Ele pode seguir para o setor privado", diz o diretor do parque tecnológico da UFRJ, Maurício Guedes.

ESPAÇO PARA CRESCER

Embora exemplos deste tipo de financiamento de pesquisa e desenvolvimento se multipliquem no país, ainda há muito espaço para crescer. O investimento privado ainda não chega à metade (45,7%) do recurso total aplicado na área no Brasil, segundo o MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação), contra 70% em países reconhecidamente inovadores, como EUA, Alemanha, China, Coreia do Sul e Japão.

Estima-se que menos de 50 mil cientistas trabalhem em pesquisa na indústria brasileira. Na Coreia do Sul, esse número é três vezes maior (166 mil) e nos EUA, passa de 1 milhão.

No Sul, a parceria entre Embraco e UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) em projetos de pesquisa completou 30 anos em 2012. Não é à toa que neste período a empresa, com sede em Joinville (SC), tenha dado um impressionante salto de inovação: deixou de comprar tecnologia alemã para se tornar a líder mundial de compressores herméticos para refrigeração e referência tecnológica do setor.

Os projetos da Embraco com a UFSC envolvem hoje cinco laboratórios da UFSC e quase 150 pessoas, entre docentes e alunos bolsistas. "A universidade nos desenvolve o conhecimento técnico e os nossos engenheiros transformam esse conhecimento em produtos", afirma Fábio Klein, diretor corporativo de desenvolvimento tecnológico da Embraco. De quebra, o programa ainda garante mão de obra altamente treinada. Por ele passou metade da equipe de engenheiros da Embraco, incluindo o atual presidente e três dos seis vice-presidentes.

EMPREENDEDORISMO

Ronaldo Nóbrega sabe bem o que é estar do outro lado do balcão. Depois de 35 anos de carreira acadêmica na engenharia química da UFRJ, ele montou com outros dois professores e uma ex-aluna da universidade a PAM -Membranas Seletivas, a primeira empresa de produção de membranas na América Latina. Gerada a partir de pesquisas no Laboratório de Processos de Separação por Membranas da Coppe/UFRJ, a empresa mudou-se para o parque tecnológico em março de 2009 e mantém uma estreita relação com a academia.

"A universidade entra com o desenvolvimento mais fundamental e nós levamos a pesquisa para a produção industrial. Esta é a grande vantagem de estar no parque", afirma Nóbrega.

A empresa já fatura mais de R$ 2 milhões anuais e tem como clientes Dell, Dupont e Votorantim, entre outros.

Apesar do interesse estrangeiro no setor de petróleo e gás brasileiro, a Petrobras continua sendo a principal fonte de financiamento de P&D no país. A estatal projeta injetar nada menos do que R$ 1,4 bilhão em parcerias com universidades e centros de pesquisas entre 2011 e 2014. O dinheiro tem como destino uma rede de mais de 70 laboratórios, que trabalha para resolver gargalos tecnológicos do país.

Entre esses laboratórios está o Tanque de Provas Numérico (TPN) da Escola Politécnica da USP (Poli-USP). Criado em 2002 em conjunto com a estatal, é pioneiro no estudo de hidrodinâmica aplicada e um dos mais modernos do mundo nessa área. Por encomenda da Transpetro, braço naval da Petrobras, o TPN desenvolveu um sistema totalmente nacional capaz de simular manobras de atracação arriscadas ou realizadas depois de obras em portos brasileiros.

A pesquisa levou dois anos e envolveu 25 pessoas, desde bolsistas de iniciação científica a pós-doutorandos em Engenharia Naval e de Software. "É uma parceria muito benéfica para ambos os lados. Na engenharia, é muito importante trabalhar com problemas reais", observa o professor Eduardo Aoun Tannuri, um dos coordenadores do TPN.

EXPERIÊNCIAS

O modelo de financiamento privado de pesquisa de ponta não beneficia apenas as grandes universidades públicas do país. Para alavancar a sua área de pesquisa e inovação, até então incipiente, a PUC-RS trilhou um caminho pioneiro ao criar um parque tecnológico, batizado de Tecnopuc, dentro do campus da instituição, em Porto Alegre, em 2003.

Hoje, ele abriga 5.300 profissionais e 82 empresas, entre elas Dell, HP e Microsoft. Todas têm que ter ao menos um projeto de pesquisa em parceria com a universidade - existem em torno de 150 em andamento hoje. "O salto que a PUC-RS deu em uma década é um indicador claro de que a estratégia deu um ótimo resultado", observa o diretor do Tecnopuc, Roberto Mosquetta.

No ranking de grupos de pesquisa do CNPq, a universidade aparece como primeira colocada entre as instituições comunitárias e em 13º no geral. Além disso, as pesquisas geraram requerimento de 85 patentes nacionais e 48 internacionais.

Em junho do ano passado, a PUC-RS inaugurou o Instituto do Cérebro (InsCer/RS), um dos mais modernos centros destinados ao tratamento e diagnóstico de doenças neurodegenerativas e lesões cerebrais da América Latina. O projeto de R$ 35 milhões foi um dos motivos que levaram o núcleo de P&D em Saúde da Totvs, baseado em Porto Alegre, a se instalar no Tecnopuc. Nelson Pires, diretor do segmento de saúde da empresa, sexta maior do mundo em software, diz que a ideia é desenvolver projetos de longo prazo a partir de 2014.

 

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