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31/01/2013 - 16h43

Música em formato stream ganha terreno, e renda dos músicos encolhe

BEN SISARIO
DO NEW YORK TIMES

Como muitos fãs de música, Sam Broe correu a aderir ao Spotify dois anos atrás, e não se arrependeu.

O Spotify, que começou a veicular música em formato stream na Suécia em 2008, permite que usuários escolham entre milhões de canções, via Internet, gratuitamente ou por assinatura, e cada vez mais é visto como o futuro do consumo de música. Broe, 26, de Brooklyn, disse que ter tanta música ao seu alcance o ajudou a reduzir seus gastos musicais de US$ 30 ao mês para os US$ 10 que gasta no serviço premium do Spotify.

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"Só baixo alguma coisa na iTunes nos raros casos em que não encontro a faixa no Spotify", diz.

Jim wilson/The New York Times
Zoe Keating, música independente que revelou os royalties que recebe dos diversos serviços que permitem ouvir suas músicas, mostrando até as frações de centavos
Zoe Keating, música independente que revelou os royalties que recebe dos diversos serviços que permitem ouvir suas músicas, mostrando até as frações de centavos

Uma década depois que a Apple revolucionou a música com a loja iTunes, o setor musical está passando por nova transformação digital, ainda mais radical, com os ouvintes trocando os CDs e downloads de música por serviços que veiculam música em formato stream, como o Spotify, Pandora e YouTube.

Como fornecedores de música legalmente licenciada, eles foram bem recebidos por um setor que sofreu muito com a pirataria. Mas à medida que as companhias que os operam se tornam corporações bilionárias, o modesto influxo de dinheiro que isso vem propiciando aos músicos e compositores incomoda muita gente.

No final do ano passado, o caso de Zoe Keating, uma violoncelista independente da Califórnia, serviu como claro exemplo. Em longas planilhas postadas em seu blog no Tumblr, ela revelou os royalties que recebe dos diversos serviços que permitem ouvir suas músicas, mostrando até as frações de centavos.

Mesmo para uma artista pouco conhecida como Keating, que se descreve como violoncelista de vanguarda, os números revelam um quadro desanimador sobre a vida dos músicos atuais. Suas canções foram executadas mais de 1,5 milhões de vezes pela Pandora em seis meses, e ela recebeu US$ 1.652,74. No Spotify, as 131 mil execuções de seus trabalhos no ano passado lhe renderam apenas US$ 574,71, ou 42 centavos de dólar por execução.

"Em certos tipos de música, como a clássica ou o jazz, condenaremos os músicos à pobreza, se essa for a única forma de consumo musical", afirmou Keating.

A forma pela qual os serviços em modo stream pagam royalties aos músicos representa uma grande virada sistêmica para o setor.

Dos discos de 78 rotações à iTunes, os royalties por gravação dos artistas eram calculados como porcentagem do valor de venda. Em um download de 99 centavos de dólar, um artista típico fica com entre sete e 10 centavos, descontada a parte do varejista, da gravadora e do compositor, de acordo com executivos do setor. Uma piada do ramo define esse fluxo de royalties como "o rio dos tostões".

Na nova economia do formato stream, porém, o rio dos tostões parece ter se transformado no córrego dos microcentavos.

Spotify, Pandora e outras empresas pagam frações de centavos de dólar às gravadoras e editoras musicais a cada vez que uma canção é executada, e parte desse dinheiro se destina aos músicos e compositores como royalty. Ao contrário dos royalties sobre vendas, esses pagamentos ocorrem sempre que um ouvinte clica sobre uma canção, não importa quantas vezes.

A questão que incomoda o setor musical é determinar se esses micropagamentos, acumulados, poderão resultar em montante substancial.

"Nenhum artista será capaz de sobreviver como músico profissional se ele não tiver uma carreira sólida em apresentações ao vivo, e poucas pessoas se enquadram a essa descrição", diz Hartwig Masuch, presidente-executivo da BMG Rights Management.

O Spotify confia em que os músicos serão bem remunerados. A companhia tem 20 milhões de usuários em 17 países, e cinco milhões deles pagam entre US$ 5 e US$ 10 ao mês para eliminar os anúncios recebidos pelos ouvintes muquiranas.

Em entrevista recente, Sean Parker, membro do conselho da companhia, disse acreditar que no futuro o Spotify terá assinantes em número suficiente para ajudar a restaurar as glórias do passado no setor musical - ou seja, reconduzi-lo aos dias anteriores ao Napster, o primeiro empreendimento de Parker.

"Acredito que a Spotify será a empresa que encontrará o sucesso com esse modelo", disse Parker, que também foi presidente do Facebook. "É o modelo certo se você deseja recriar o faturamento que existia no final dos anos 90, quando o setor estava no auge. É o único modelo que permitirá que isso aconteça".

Como maior mercado mundial de música, os Estados Unidos vêm servindo como campo de provas crucial para as companhias de stream, mas a concorrência está crescendo no resto do mundo. O Deezer, um serviço francês de música a pedido, anunciou planos para atuar em mais de 100 países. E serviços localizados de stream não param de surgir: o Anghami, por exemplo, atende aos ouvintes do Oriente Médio, enquanto na Índia operam o Dhingana e o Saavn.

Para os maiores astros pop, os sucessos nos serviços de stream podem gerar receita substancial. Na semana passada, um executivo do Google afirmou durante o anúncio de resultados da empresa que "Gangnam Style", o sucesso viral do cantor coreano Psy, gerou US$ 8 milhões no YouTube, onde o vídeo foi assistido 1,2 bilhão de vezes, com royalty de cerca de 0,6 centavo de dólar por exibição.

Mas muitos músicos cujos trabalhos não atingem o topo das paradas não se sentem tão otimistas.

Para complicar a questão, cada tipo de serviço paga tarifas diferentes. As do Pandora são definidas por lei. O Spotify não quis comentar sobre seus pagamentos, mas alguns executivos de música que negociaram com a companhia afirmam que são de entre US$ 5 mil e US$ 8 mil por milhão de execuções, na seção paga, e cerca de 90% mais baixos na porção aberta do site.

As companhias de música em formato stream vêm crescendo aceleradamente. A Pandora, com 67 milhões de usuários regulares, tem ações cotadas em bolsa e capitalização de mercado de cerca de US$ 2 bilhões, e os investidores do Spotify recentemente avaliaram a empresa em US$ 3 bilhões. Mas até o momento as duas contribuíram relativamente pouco para o movimento anual de cerca de US$ 7 bilhões registrado pelo setor de música dos Estados Unidos.

Nos quatro últimos trimestres reportados, a Pandora pagou US$ 202 milhões em "custos de aquisição de conteúdo", o que inclui custos de licenciamento, e a Spotify recentemente informou ter pago US$ 500 milhões em royalties desde o lançamento. Os downloads, em comparação, propiciaram faturamento de US$ 2,6 bilhões em 2011, de acordo com a Recording Industry Association of America, a associação setorial das gravadoras norte-americanas.

Para aqueles que dependem dos royalties, a maior preocupação vem sendo a possibilidade de que a música em modo stream roube receita aos CDs e downloads, ao oferecer alternativa mais barata ou gratuita.

Cliff Burnstein, cuja empresa, a Q Prime, administra o Metallica e outros grandes nomes da música, disse que mesmo que esses serviços prejudiquem as vendas, nem tudo está perdido, porque o número de assinantes pagos vem subindo rapidamente.

"Há um ponto em que haverá uma captura de 100% e estaremos ganhando mais dinheiro com as assinaturas", diz Burnstein. "Calculamos que o ponto seja 20 milhões de assinantes mundiais".

O Metallica recentemente anunciou contrato de exclusividade com o Spotify.

Se o número de assinantes crescer, os royalties aumentarão, recapitulando um processo visto sempre que novas tecnologias são adotadas, diz Donald Passman, advogado conhecido do ramo musical e autor de um livro sobre o aspecto jurídico da indústria da música.

"Os artistas não ganhavam muito dinheiro com os CDs quanto estes foram introduzidos, tampouco", diz Passman. "Eram um produto especializado, pagando royalty menor. Depois dominaram o mercado e os royalties subiram. Acontecerá o mesmo nesse caso".

Tradução de Paulo Migliacci

 

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