Empresas adotam jogos virtuais para escolher trainees
DERLA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os jogos on-line chegaram ao processo seletivo das empresas. Multinacionais estão usando esses games para eliminar candidatos a estagiário e trainee que não têm o perfil da companhia antes das fases presenciais.
A Natura, por exemplo, reformou seu processo seletivo neste ano e vai adotar uma dinâmica de grupo virtual. Os competidores terão de resolver questões relacionadas a negócios, preparar as respostas e apresentá-las via webcam para executivos e ex-trainees da empresa.
"Essa etapa não é eliminatória, mas o desempenho será somado ao das outras fases para compararmos", explica Denise Asnis, diretora de RH da companhia. "É uma maneira de deixarmos gente do mundo inteiro participar, pois a pessoa só precisa ter internet."
A Danone lançará em agosto dois tipos de jogos voltados para contratação. O primeiro deles é o "Journey", no qual universitários ganham moedas virtuais pela participação em atividades como a leitura de artigos sobre a empresa na plataforma. De acordo com os pontos obtidos, o candidato ganha o direito de participar de uma outra competição chamada "Trust", usada como critério para preencher as vagas de trainee e estágio.
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No jogo, o usuário constrói fábricas, contrata pessoas e toma decisões sobre preços e produtos. A lógica é parecida com o aplicativo "Farmville", que simula a administração de uma fazenda no Facebook. "Funciona como um programa de milhagem. Quem tiver o melhor desempenho será chamado para a dinâmica presencial, a última etapa do processo", conta Priscila Pacheco, gerente de recursos humanos da companhia.
A ideia é reproduzir virtualmente o cotidiano corporativo em plataformas virtuais. Hoje, é possível encontrar games que possuem fases de reuniões, problemas de estoque, desafios de logística, construções de fábricas e remanejamento de pessoas.
Avener Prado/Folhapress | ||
A trainee Pamela Rios participou do processo seletivo da Johnson & Johnson |
TUDO É RELATIVO
Em grande parte das disputas, o conteúdo é constituído por questões de múltipla escolha. Mas não há respostas erradas ou certas, mas sim opções que se encaixam melhor na cultura da empresa.
A trainee Pamela Rios, 24, conta que ficou assustada quando se deparou com um game no processo seletivo da Johnson & Johnson.
Ela teve de desenvolver estratégias para resolver problemas na operação da companhia --em inglês. "Foi difícil no início porque eu tinha pouco tempo para pensar e propor soluções em outro idioma."
Um recurso parecido deixou a administradora Helena Isaac de Castro, 23, surpresa. Ela foi desafiada a criar em poucos minutos um plano para o lançamento de bebidas no exterior. O objetivo era testar o conhecimento dos candidatos sobre o setor. "Tinha de pensar em produtos e no público-alvo e em uma estratégia para mostrar que era boa para a vaga", conta a trainee da Ambev.
Victor Moriyama/Folhapress | ||
A trainee Helena Isaac de Castro participou do processo seletivo da Ambev |
De acordo com a gerente de inovação da consultoria Cia de Talentos, Renata Magliocca, as competições virtuais permitem que o recrutador consiga prever como o candidato irá trabalhar.
"Podemos simular a tomada de decisões diante de problemas que são baseados em situações reais."
Para Magliocca, que desenvolve games para as empresas, os candidatos participam desse tipo de seleção com mais espontaneidade, por estarem à frente do computador, e não de um executivo da empresa. "Todo processo seletivo tem erros, mas percebemos que com games essa taxa é menor."
A fabricante de cigarros Souza Cruz investiu mais de R$ 200 mil no desenvolvimento de duas plataformas interativas, que foram usadas na última seleção de trainees, em 2012. "Adotamos o recurso por uma questão de inovação e por saber que a tendência virtual é valorizada pelos jovens. Além disso, ganhamos assertividade no filtro de candidatos", afirma Filipe Abitan, coordenador de RH da companhia.
Abitan diz acreditar que a prática diminui possíveis avaliações subjetivas, o que torna a seleção mais justa.
NA CÂMERA
O processo seletivo para trainees da Ambev também passou por revisões no último ano. A companhia, que já adotava competições presenciais, começou a testar a capacidade dos candidatos a distância.
"Antes tínhamos uma dinâmica de grupo na penúltima fase, mas agora o candidato precisa resolver um 'case' on-line e fazer uma apresentação via Skype", afirma Isabela Garbers, gerente de recrutamento e seleção da empresa. "Gostamos muito disso porque tiramos as pessoas da zona de conforto."
Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress | ||
EXCLUSÃO
Entretanto, a eficácia desse tipo de método não é uma unanimidade. Caroline Dibe, designer de experiência da consultoria LAB SSJ, afirma que os games podem não ser atraentes para os candidatos que não são competitivos. "Se a pessoa não tem a ambição de estar entre os dez primeiros na vida corporativa, mas sim de fazer parte do grupo, ela pode ficar desestimulada a jogar", afirma Dibe, que é especialista em "gameficação".
Apesar da crescente adoção de competições virtuais, as disputas "reais" continuam sendo usadas pela maioria das companhias. Na última seleção de trainees da Whirlpool, dona da marca Brastemp, os candidatos participaram de um desafio em que era preciso decifrar, em grupo, um enigma que associava letras e cores.
O engenheiro mecânico Raphael Ferreira, 25, que foi um dos 14 contratados, conta que, apesar de descontraída, a disputa foi complicada. "Nessa hora, estavam avaliando nossa capacidade de trabalhar em grupo e de análise", conta.
Marcelo Justo/Folhapress | ||
O trainee Rafael Ferreira participou do processo seletivo da Whirpool |
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