Famosos usam dinheiro e imagem para investir em empresas iniciantes
FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO
O cantor Bono, do U2, quase alcançou o topo do ranking dos roqueiros mais ricos do mundo graças ao investimento que fez no Facebook. Segundo a mídia americana, o fundo Elevation Partners, que pertence a ele, gastou US$ 120 milhões para ter 1,5% da rede social, antes de ela abrir capital na Bolsa de Valores. O site chegou a ser avaliado em US$ 104 bilhões.
O desempenho da empresa no mercado de capitais não foi bom --se as ações não tivessem caído, Bono seria o mais rico (posição hoje ocupada por Paul McCartney).
O irlandês não é um caso isolado. Pessoas conhecidas do grande público têm olhado para as start-ups (empresas iniciantes de base tecnológica) na hora de investir. Angélica e Bernardinho estão nesse grupo.
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Segundo Marcelo Pimenta, professor da ESPM, isso se explica, em parte, porque as start-ups são um assunto em voga. "Tem gente que faz ação social porque está na moda, tem quem lança livro porque está na moda e há pessoas que investem em empresas de tecnologia", diz.
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Daniel Ibri, sócio do fundo Grid, afirma que ter a imagem associada a essas companhias é positivo porque elas "fazem o país crescer e estão ligadas a produtos novos, feitos por gente jovem".
Bob Wollheim, diretor-executivo da aceleradora de negócios S_Kull, diz que há outros motivos que explicam esse movimento: as celebridades têm dinheiro e são "inteligentes". Ele conta que foi a um evento de novos negócios nos EUA e viu uma palestra do ator Ashton Kutcher e diz ter saído de queixo caído. "Fiquei impressionado, porque ele gosta muito de internet e entende muito do assunto." Kutcher já colocou dinheiro no Skype (software para conversas em vídeo), no Foursquare (rede social de geolocalização) e no Airbnb, de locação de imóveis.
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No Brasil, Bernardo Rezende, o Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei, foi anunciado no mês passado como sócio do EduK, um site de cursos. O técnico irá atuar como um "embaixador" do site, anunciando-se como sócio, afirma o fundador Eduardo Lima, 35. Apesar de ter virado um dos donos, Bernardinho não precisou colocar dinheiro na empresa. "Hoje, a participação dele é com a imagem."
O fundador da associação de investimento Anjos do Brasil, Cassio Spina, diz que "existem casos em que há uma permuta de participação em sociedade por merchandising". Ele salienta que isso não deixa de ser um investimento por parte da celebridade. "É uma troca por algo que tem valor econômico [a imagem do famoso]."
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Empresário Eduardo Lima,35, no escritório da empresa EDUK, que tem como sócio o treinador de vôlei Bernardinho |
DAR IDEIA
Quando o apresentador Luciano Huck foi anunciado como um dos investidores na empresa de compras coletivas Peixe Urbano, ele disse em uma entrevista coletiva que não faria comercial e nem campanha do site. Isso não foi seguido à risca: o apresentador chegou a fazer propaganda para a marca. Segundo Julio Vasconcellos, 32, cofundador da empresa, o papel de Huck vai além de campanhas publicitárias.
"Periodicamente, enviamos um relatório com atualizações sobre os negócios e nos comunicamos com frequência. Nesses bate-papos, ele contribui com novas ideias, especialmente na área de marketing."
A mulher de Huck, Angélica, é sócia da loja virtual Baby.com.br. Um dos fundadores do negócio, o norte-americano Davis Smith, dá uma medida de como a sociedade o ajuda. Ele conta que no começo do negócio, em 2011, houve um dia de intensa cobertura da mídia --até o "New York Times" publicou uma reportagem sobre eles. "Foi um ótimo dia de visitas ao site. Depois a Angélica publicou um post no Facebook e o número de visitas ao site foi dez vezes maior. Eu nem acreditava."
O benefício de ter um famoso entre os sócios não é algo mensurável com números, diz Marcelo Galiberne, 44, um dos donos do portal de varejo on-line Tiguana. "Em e-commerce, a gente precisa divulgar a marca e passar uma ideia de confiança, porque o cliente não vai à loja, não pega no produto."
Para resolver esse problema, eles anunciaram, no fim do mês passado, um investimento do ex-tenista Guga Kuerten, que é especialmente respeitado na região onde a Tiguana quer se estabelecer, o sul do país.
Ze Carlos Barretta/Folhapress | ||
Davis Smith (à esq.) e Kimball Thomas, primos e sócios da Baby.com.br, tem como garota propaganda a apresentadora Angélica |
O atacante do Fluminense Deco é outro esportista que decidiu fazer um aporte de dinheiro em uma empresa da web. Neste ano, ele associou-se à agência de publicidade on-line Frog.
"Ele tem uma imagem de pessoa séria e cerebral e esses atributos são valiosos para a nossa marca", diz Daniel Deivisson, 39, diretor da Agência Frog. O futebolista tem outros negócios: um fundo de investimentos, uma empresa que cria aplicativos para smartphones e uma agência de marketing esportivo.
Por e-mail, Deco conta que, para descobrir em quais negócios e empreendedores vale a pena investir, conversa com executivos de um determinado setor. Mas ele também conhece pessoas pelo dia a dia profissional. Ele diz que conheceu os sócios da Twing, a empresa que faz aplicativos, por acaso. "Eles prestaram um serviço para mim, vi um potencial e propus me tornar sócio."
As celebridades não revelam o capital investido ou a fatia que detém das empresas.
Leo Pinheiro/Folhapress | ||
Jogador do Fluminense Deco (ao centro) se tornou sócio da agencia digital Frog |
APRESENTANDO
Para start-ups, esse casamento pode ser interessante por ser uma maneira mais barata de impulsionar a marca, diz Lully Pascowitch, diretora de serviços a empresários da ONG Endeavor, que estimula o empreendedorismo. Mas ela aponta que existe o risco de a empresa se associar "a pessoas erradas".
Smith, o sócio da Baby.com.br, por exemplo, não conhecia Angélica. A aproximação entre os dois foi feita por um outro investidor que é amigo dela e do marido. Ele tinha receio de se associar a alguém famoso. Isso porque, segundo o empresário, "é um risco grande ligar a sua marca a uma celebridade, porque ninguém é perfeito e, se algo acontece com essa pessoa, isso pode danificar a empresa".
Para exemplificar, ele cita dois esportistas que se envolveram em casos polêmicos: o golfista Tiger Woods (que teve suas relações extraconjugais tornadas públicas) e o ex-ciclista Lance Armstrong, que foi banido do esporte por ter se dopado e feito transfusões de sangue para melhorar seu desempenho. Armstrong é justamente um dos investidores do aplicativo Mobli, de compartilhamento de fotos e vídeos.
O criador do sistema, Moshe Hogeg, 32, diz não se importar com as polêmicas que envolvem o sócio. "Controvérsia e mídia social são melhores amigas. Se as pessoas querem falar sobre isso, tomara que elas usem o nosso aplicativo para dizer o que pensam."
Ele conta que no dia em que Armstrong confessou a apresentadora Oprah Winfrey que usou doping, o aplicativo teve mais downloads. O perfil do ex-ciclista no Mobli teve um pico de acessos.
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