Metade da população da Vila Andrade mora em favelas
ANA MAGALHÃES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A desigualdade social de São Paulo tem endereço: rua Afonso dos Santos, no distrito da Vila Andrade. É essa estreita e tortuosa via que separa um dos condomínios mais luxuosos da capital --o Penthouse-- da favela de Paraisópolis, a maior da cidade, com cerca de 62 mil moradores.
Essa é a rua que aparece na famosa foto de autoria de Tuca Vieira e que ilustra essa reportagem.
Tuca Vieira - 20 jan.2004/Folhapress | ||
Condomínio de luxo faz divisa com a favela de Paraisópolis |
Além de ser campeã em crescimento populacional e em novos lançamentos imobiliários nos últimos anos, a Vila Andrade lidera um outro ranking: é o distrito da cidade que mais possui domicílios em favelas.
Dados do Observatório Cidadão da Rede Nossa São Paulo revelam que quase a metade dos domicílios do distrito (49%) está em favelas. O segundo colocado na lista é o distrito de Jaguaré, com 34% dos domicílios em favelas, seguido por Sacomã, com 30% --os dados são de 2011. Dos 127.015 moradores da Vila Andrade, quase a metade mora em Paraisópolis.
A desigualdade reflete-se também na renda média dos moradores da região. Enquanto a renda per capita mensal da Vila Andrade é de R$ 2.335,16, segundo dados do IBGE, a renda média dos moradores de Paraisópolis é um quinto disso --R$ 558,28--, de acordo com a Secretaria da Habitação da Prefeitura de São Paulo.
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O artista e jardineiro Estevão Silva da Conceição, 55, chegou a Paraisópolis há 27 anos, quando seus becos ainda eram de terra batida e muitos deles não tinham água ou sistema de esgoto. "Naquela época era barato comprar imóvel aqui, hoje está muito caro".
Naquele ano, o baiano, nascido na cidade de Santo Estevão, comprou uma casa na comunidade. Alguns anos depois, ele, que tem experiência na construção civil, começou a reformar o local "à sua maneira". Hoje, ele é conhecido como "o Gaudí brasileiro", ou o "Gaudí de Paraisópolis" --sua casa tem traços arquitetônicos similares ao artista espanhol.
Segundo Silva da Conceição, a comunidade melhorou muito nessas quase três décadas. "Quando cheguei aqui, Paraisópolis era muito diferente, essa rua era cheia de buracos, não dava para andar direito. Hoje virou uma cidade, tem água, luz e esgoto. Tem também pizzaria, mercado, banco e casas Bahia."
A poucas quadras da casa de Estevão, moradores de classe média alta ouvidos pela reportagem dizem não se importar com a proximidade com a favela. "Paraisópolis é um bairro popular como tantos outros, cheio de gente honesta e trabalhadora", afirma Lia Tulmann, 61, proprietária do restaurante Lia Gionro e moradora da Vila Andrade há 30 anos.
Alguns moradores veem o lado positivo da proximidade com a favela. "Minha funcionária, que me ajuda a cuidar dos meus filhos, mora aqui do lado, na comunidade de Paraisópolis. Isso me dá muita segurança, porque ela não gasta horas de deslocamento. E, em casos de emergência, pode me ajudar", comenta Luciana Pimentel, 33, casada e com dois filhos, moradora da Vila Andrade há cerca de dois anos.
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